mandag, mai 30

definitivamente temos queda por homens do sul



( ...)
don´t matter how far wrong you´ve gone
you can always turn around

met a woman in a bar
told her i was hard to get to know
and near impossible to forget

she said i had an ego on me
the size of texas
well i´m new here
don´t forget
does that mean big or small?

don´t matter how far wrong you´ve gone
you can always turn around


( smog, i´m new here )
Non

søndag, mai 29

algo assim como um bulldozer com 9 coros de anjos por cima vestidos de calça jeans e capazes de bater muitas palmas nos últimos três quartos dos temas




se nas próximas 48 horas a audição de crown of love continuar a revelar os mesmos índices de compulsão , inauguro uma terapia de grupo inteiramente nova.

explicit lyrics

a manhã veio, ele sentia-se lírico.
olhava o céu e o mar, se mar houvesse naquela cidade, ou então olhava os rostos que iam com a calma dos domingos, jornal entalado na alma e nas dúvidas, e pensava no seu poema. um poema com tráfego, com sentido proibido.

escrever é uma pornografia, pensou, e riu-se. era fácil dizer coisas assim, atirava a frase para cima da mesa e vinha-se embora. os outros que a aturassem, ou não . havia sempre a possibilidade do não. do mundo estar errado , de ele ter muitos pés a irem para sul quando o destino era norte, ou o papel não ter a mesma pele que as mãos de ontem.

a possibilidade do erro engrandece a conduta, voltou a pensar ele. estava a ficar sentencioso, acusavam-no alguns. isso é de leres esses tipos.
ele não sabia quem eram esses tipos, mas era porreiro ter embirrações. autores de quem falar mal e fazer chistes divertidos. isso aborrecia-o , mas ele sabia fazê-lo exemplarmente.
estava cada vez mais difícil acreditar em si, conseguir ficar nu dentro da sua boca.

ontem disseram-lhe alguma coisa sobre nuvens e pianos, mas que ridículo, nuvens e pianos.
estava cada vez mais enquadrado, a única forma de sobrevivência intelectual é o enquadramento, repetia.
fazem-se listas, grupos, prateleiras mentais para não cair no desespero . é absurdo pensar mais alargadamente, o espírito é megalómano e deve ser senhoreado. assim, ele achava ridículo quando, para se descartarem de alguma menção sua mais apaixonada , lhe diziam: sabes, não gosto muito de f., prefiro de longe l.
mas que merda.
por estas coisas, afastava-se dos convívios mundanos. antígona ou fausto pareciam-lhe interlocutores bem mais estimulantes do que os amigos, os parceiros e outros por classificar . tinham todos boca a mais.

era manhã, ele sentia-se lírico.
calçou-se e saiu de casa. gostava de ouvir os comboios passar, do seu comedido escândalo sonoro. aquela cidade tinha tudo: mar e comboios. parece que agora iam enterrá-los, sim, isso , enterrá-los. as pessoas não gostavam daquela cicatriz a meio da cidade. as pessoas fogem das cicatrizes e do passado.

tinha pena, o poeta. mais adiante dois cães cheiravam-se meticulosamente. devíamos aprender estas coisas, ter a frontal alegria do mijo que tem um cão e deixar de querer o mundo em moldurinhas apetecíveis. viver entre a poeira, o trânsito e o cansaço. aprender que a alma tem rugas a apodrece, que os pés nos levantam até um dia, que depois disso é o caminho que muda, que estar aqui é um menor engano, viver é saber molhar as mãos e ter os sovacos transpirados. era manhã, ele sentia-se lírico.

para não sair de casa

1.Shearwater



tão puro, delicado, às vezes quase nick drake, apenas inspirar já pode ser demais para acompanhar algumas destas filigranas;

2.Stephan Malkmus

Face the Truth



em non stop Loud Cloud Crowd e Post Paint Boy

3.Lou Barlow

( Sebadoh )

made in texas



podíamos usar duas alternativas para referir este álbum: um hipercalórico encómio ou um teologal silêncio.

decisão

depois de muito experimentar, arrazoamos: feiras do livro não constam da nossa lista de predilecções.

( pipocas,gente,barulho,farturas,gente,ventania,demonstrações culinárias com patrocínio azeite oliveira da serra, encontrão sem pedido de desculpa,ventania,gente, outro encontrão, 1,60 de incompetência métrica para alcançar alguns expositores, pipocas, gente,chamamentos altifalados, convocação geral das tropas do autógrafo,pipocas, ventania. the end com dois da relógio d´água. )

fredag, mai 27

frases clássicas de auto-ajuda I

Persio, não ha maior door,
que querer bem em estremo,
a quem t´o a ti quer menor.


Écloga I , Bernardim Ribeiro

oras

há quem teime: espinho é uma cidade. mentira, spinhô é um alegre lugarejo piscatório. não me venham com urbanices.
ok, temos casino, e depois? viva a província.

torsdag, mai 26

à beirinha de uma úlcera gástrica

há para aí muitos mefistófeles à solta.
mas a maior chatice é que são avaros: sugam a alma, mas esquecem-se de remeter o elixir da longa vida.
pessoinhas. o mundo está cheio de pessoinhas.

onsdag, mai 25

perry blake meets minor white





I left my house in the clouds
I walked into someone's afterlife
She kept a pill in her hand
To take when we were about to land

Did you try
To let it go on by?
Did you try?
The Needles and the Uniforms
A schoolgirl and a unicorn
Eclipse a love with a loss
I sought comfort in her underwear
I shaved my face twice a day
Those crazy lambs
They will suffocate

Did you cry
Or let it go on by?
Did you cry?
The aftertaste of something warmer
Of schoolgirls and of unicorns.

Did you try to let it go on by?
Did you try?
The schoolgirl and the unicorn
The Needles and the Uniforms;

I washed her face in the rain
I will return to that place again
Back to my house in the clouds
Back to my house in the clouds

tirsdag, mai 24

das histórias I

deixa lá, não me basta uma boa história. é melhor vestires o casaco, partir de repente, nunca mais dizer se um dia tu pudesses entender. deixa lá. tenho tudo que gosto mais outro tanto para resistir ao tédio e, desde que a felicidade deixou de me preocupar, pode dizer-se que estou feliz.
sim, sabes o que me faz sorrir, conheces os capítulos principais das minhas tragédias, mas a tua boa história não é assim boa e eu, eu até não gosto muito de flores. deixa lá.
pode ser que logo à noite alguém te telefone e possas contar mais esta história. quanto a mim, deixa lá, façamos de conta que eu sempre fui surda.



espelho, espelho meu

involuntariamente, decorei o meu número de identificação fiscal.
ó opróbrio! venha a mim a ingnomínia e não haja, entre mortais ou imortais, voz que sustente a minha pena.

misantropos do mundo, uni-vos

para quando a nossa s. francisco?

um de muitos

tenho a certeza
se te abraçasse
o mundo era outro.

mandag, mai 23

tpm, o último dos mitos femininos?

este era um assunto que importava trazer à comunidade científica: tenho para mim que essa coisa da tpm ser um exclusivo feminino é mito. nos últimos dias, muitos têm sido os varões avistados com o mesmo conjunto de sintomas.
aguardo esclarecimentos.

polivalência

há pessoas com muito talento para se queixarem. fazem-no operaticamente,algumas, trejeitos maneiristas, ênfases à la traviatta, algo de saleroso no queixume.
já outras optam pelo tom minimalista, com uma mundivisão metafísica. estes últimos são os que prefiro. nunca começam por se queixar de si, da vidinha, preferem sempre um genérico tom catastrofista, uma respeitabilidade franciscana, um afastamento shopenhaeueriano, sem esquecer o tom displicente de quem desistiu disto há muito. disto quer dizer de nós, os outros, que os ouvimos, acalentamos, oferecemos tempo, chá,linha telefónica ou um chocolate regina, consoante o grau de emergência.
um extenso pfffffffff e encerre-se o post.

à página 432

fortes suspeitas o indiciam: sou idiota.
dostoievski nos proteja.

tiro ao alvo II

( lugar da não-dedicatória)



o teu nome já não cabe
no meio-dia que trago no bolso,
não serve para abotoar o peito e ficar ao longe
a sorrir ao comboio que se atrasou
e não nos levou embora.

o teu nome já não serve de caminho
para outro lugar
que não este país, esta espera
esta maneira errada de nascer.
o teu nome já não serve para dizer

estou viva
a minha boca és tu .

tiro ao alvo I

se ainda me importasse, dizia estás errado.
sim, errado, com a mania que sabes fazer tudo bem. este país está todo torto e tu dentro dele, como quem quer escapar e não sabe, como se ficar ao longe doesse menos. se ainda me importasse, dizia estás errado.
vejo como trocas os nomes às coisas, mas não chega.vejo como pedes mais, atendes outras chamadas,usas bocas alheias, mas não serve: foi o coração quem ficou do lado errado e tu não sabes mas estás muito atrasado para a vida.

fredag, mai 20



vespeira, nora mitrani ( o adeus português) e alexandre o´neill, fotografia de fernando lemos

teoria sentimental

não há soluções, apenas anamorfoses do erro.

perseguição

tu, entre todos os versos de e.e cummings que leio.

and may myself do nothing usefully
and love yourself so more than truly
there´s never been quite such a fool who could fail
pulling all the sky over him with one smile

DON'T COME KNOCKING

de wim wenders, argumento sam shepard,
em cannes
enquanto na província se supira.






jessica lange e sam shepard



recordação de viagem



sheltering sky, b.bertolucci

trust



hal hartley

torsdag, mai 19

espelho, espelho meu

aumentar o decote é muito semelhante a uma declaração de independência.
viva o tempo quente, viva a revolução!

educação sentimental

não sei quantas mais vezes ficarei neste cais
nesta cidade, nesta hora absurda
a dizer-te um adeus que não vejo.
não sei em quantas palavras nos emaranhamos e confundimos tanto,
perdeu-se o mundo, meu amor,
o mundo.
ainda ontem eras esta praça ao sol
este sopro que vem do mar e nos lábios se deita
a viver e cantar,
ainda ontem eras tu quem prometia dias maiores,
não sei como de repente era tudo tão longe
os meus ombros caindo entre a sombra
os olhos fechados no cansaço de não te verem.
se eu sempre disse que conhecia o caminho
que os passos se encontram durante a viagem e não antes,
como foi que me perdi dentro da tua mão fechada?
se eu disse que tu eras como as paisagens que respiram connosco
ou os barcos que transpiram na pele
porque a pele é um mar onde às vezes outros corpos connosco naufragam
se eu disse o teu nome e nele inventei
a cor, o papel,o risco
porque fomos embora tão sós?
deve haver aqui, entre as algas, um outro corpo,
longínquo corpo a caminhar de noite sobre as águas
como um deus, como tu quase tão perto disto que não te via.
não sei quantas mais vezes te direi adeus
com a mão cansada e o olhar de quem sabe como acabam todas as histórias.
esta noite foi tão grande, aqui couberam tantas estrelas,
mas a alegria é a sua promessa e pouco mais
andamos todos a viver disto, pobres de pedir,
como se as nuvens nos bastassem e o chão fosse provisório.
esta é a tua morada,meu amor, este chão, este mundo,
por aqui segues, cantando entre a chuva miúda
entre a manhã onde já estive e os dias em que não me verás.
amanhã esqueço-te para sempre e mudo de nome.
amanhã acabou este mundo, esta cidade,
esta aritmética errada em que eu e tu não pudemos nunca ser dois.

quiasmo

não sei
se o azul é a cor do céu
ou é o céu
a cor do azul.
Stay by me, stay by me
You are the one, my only true love

quantas mais pessoas podiam iniciar uma canção assim, furtando-se à piroseira irremissível?
no mesmo tema de nick cave, este refrão nihilisto-decadente-relativo-epicurista



Everything is falling, dear
Everything is wrong
It's just history repeating itself
And babe, you turn me on


Everything is collapsing, dear
All moral sense has gone
It's just history repeating itself
And babe, you turn me on


Everything is falling, dear
All rhyme and reason gone
It's just history repeating itself
And, babe, you turn me on

Like an idea
Like an Atom bomb


onsdag, mai 18

n. a r. p.

( para a 6ª letra do alfabeto)

porque neste lugar se fala antes de cantar
eu vou embora sozinha
querendo o teu nome para morrer nele
como quem fica outra vez sem país

porque quando chega o fim da tarde
em todos os lugares aprendo a cor dos teus olhos
faço verde o mar e verde o céu,
contento-me da tua demora.

porque neste lugar se fala antes de cantar
eu vou só por ruas e cais
dizendo bom-dia e seguindo o vento
como se mais além da noite ou de nós
a alegria tivesse uma margem perfeita.

lembro ainda como era se me chamavas
estávamos tão perto
que não precisávamos de nomes.

porque agora alguém me leva pelo braço e diz que o inverno começou
que chegou o tempo de fechar a casa,
já não há lugares para certeza alguma,
só se escreve a quem partiu, é tempo, dizem-me,
é aqui
onde tu não estás que o país encerrou
porque neste lugar se fala antes de cantar.

mudança de endereço



222 West 23rd Street, ny

mandag, mai 16

kiki de montparnasse



De nombreux peintres la prirent comme modèle : Modigliani, Soutine, Picasso, Foujita, Derain..... Parmi tous ses amants, Man Ray, le photographe-cinéaste américain l’immortalisa sur pellicule dans un court métrage de 1928, appelé « l’étoile de mer » d’après un poème de Robert Desnos.

(no site ubuweb pode ver-se integralmente este mesmo filme. )

Durant les années folles, tous se retrouvaient autour d’expositions et de soirées folles : celles de la baronne d’Oettingen, du bal nègre avec Youki et surtout avec Kiki, reine de ces soirées.
Quand survint la Seconde Guerre mondiale, Kiki de Montparnasse vit la fin de sa gloire, puis la tragédie de la décrépitude. Elle bascula dans la misère, allant d’un café à l’autre, de table en table, pour faire les lignes de la main. Alcoolique et droguée, elle mourut en 1953, emportant avec elle le souvenir d’une immense richesse et de la gloire passée de Montparnasse. Seul Foujita, assista à son enterrement au cimetière de Thiais.

16 maio

( para a lídia . )


hoje o mundo pode ter razão
se pede a primavera
e ela inteira desce sobre os teus ombros .

assim cresce também o rio por entre a cidade murada
vendo os anos como versos encarregues de todos os frutos,
assim os dias seguem por entre o avesso das mãos,
e não há calendário que apresse o amor
nem horas que digam em quantos tempo se faz um abraço.

temos apenas algo assim como as tuas palavras
e elas são todas azuis se é maio
e aqui estamos de pés fincados na areia salgada
porque neste dia cabe alguém do tamanho do mar.

søndag, mai 15

ben vautier



ben vautier





não é nada do que possam pensar

mas uma amiga e eu só temos visto curtas e, ao que tudo indica, o estado das coisas vai manter-se assim por período indeterminado.

dominicar a tarde

alan e ale conversam.
surge a hipótese de um zoo de escritores, com direito a secção paleontológica, inclusivamente:

alexandra diz: com cartaz a dizer« é favor não alimentar os escritores»
alan diz: sim! principalmente os poetas românticos...
alan diz:
eles engolem qualquer coisa...

boas leituras

You searched through all my poets
From Sappho through to Auden
I saw the book fall from your hands
As you slowly died of boredom
I had been there, dear,
but I was not there anymore
I had been there, now I'm hiding all way


hiding all way, nick cave

yours are the poems i do not write*

( nãopoema nãofeito para algumapessoa nãoler)

antes que comece isto da maneira errada
e o domingo seja mais burguês
mais feliz
ouve-me e fica aqui
sem te parecer que mais além é que é
que depois disto tudo vai ser bom
e as palavras que te disserem vão poder
como nunca antes outras esconder-te a solidão
e os domingos serem bem melhores
que esta maneira errada de cruzar avenidas,
mãos nos bolsos sem nada mais para dizer
olhos nos olhos
por acidente,
a vontade de ir embora a demorar-nos
por teimosia.


é tão fácil ver os barcos que daqui partem
as pessoas que fogem neste comboio de 36 em 36 minutos
é tão fácil ficar sem cais, sem país, sem verão
mas somos incapazes de dizer
como os nossos nomes se trocaram e feriram tanto
que ficámos tristes e calados nesta tarde
a morrer devagarinho
tudo em volta a errar de endereço


sente-se, ó meu amor de tão poucas horas,
como já perdemos tudo que queríamos
e mesmo que ninguém ame humildemente
ousar pouco sempre foi o nosso primeiro estilo
heróis de causa nenhuma
enlaçados por horas e dias que já foram
e não sabemos repetir.


antes que comece isto da maneira errada
antes que te apeteça dizer
como do outro lado do mundo há ainda carros velozes
e amantes duma noite apenas que sabem melhor que nós mentir
e fazer promessas em que não cremos
antes que comece isto da maneira errada
e diga que sem nada saberes
foste tu quem primeiro acertou no meu destino
que em tua volta o céu fazia barulho
e eu apenas ouvia esse rumor de festa


antes que comece isto da maneira errada
e diga que há ainda no teu rosto um mapa
e por ele se vai de mundo em mundo
até ficar estendido numa tarde de sol
ante que te diga que é melhor estar errado e morrer a cada silêncio
do que ficar alto e maior só por fazer a verdade
(e que prefiro ainda a mentira de me amares)
antes disso tudo

diz-me adeus nesta surdina de mãos que já não se tocam
diz-me que foste embora deste domingo
que aqui onde estou e te procuro e faz vento
( e o vento não me deixa cair)
tudo se errou mas tu cantas ao longe noutro dia mais feliz.



* e.e. cummings

o maluquinho das latas

ontem, no programa livro aberto, margarida rebelo pinto definiu a escrita pop como sendo um lichtenstein livresco. e acrescentou que era algo como as coisas do maluquinho das latas.

andy warhol, pois claro, o maluquinho das latas.


as latas


o maluquinho



photo Greg Gorman, 1983
overdose de hermenêutica. e morre-se disto, senhores, é bem verdade.

lørdag, mai 14

5 razões para estar de mal com a província

e com ganas de proclamar independência:

1.

2.


3.

4.

5.


em definitivo, estamos a precisar de uma casa de férias na capital do império!

dr. freud

descobri que sonho com antíteses. a mesma história, versão queremos mais , seguida da versão tirem-me daqui muito rapidamente, por gentileza.
um psiquismo estereofónico, o meu .

fredag, mai 13

mentira

vil mentira, nem o chá verde e nem o chá preto são substitutos decentes do café. não no que diz respeito à actividade mental.
assim sendo, sopesando custos-benefícios, resolvemos privilegiar a sanidade mental e sacrificar o fígado.

torsdag, mai 12



sílvia


não sei como entraste onde eu estava parada
para contares esta história que aprendi a ouvir
tudo em volta está escrito com sobras de cinza

temos apenas um coração parado à espera de ser dia
e morrer de cansaço.
temos este papel velho onde tropeçamos de tanta biografia
e este céu que passa por cima dos pulmões.

é melhor parar aqui
não tenho mais corpo para dizer que não
fico muito melhor na fotografia que trazias na carteira,
não lembro, mas podia jurar que me acertaste o cabelo antes
uma minúcia só tua,
que só tu tinhas para ver nos outros coisas perfeitas

vou desatar a correr,
correr muito para saber que estás em lado nenhum,
e que tudo aqui é meu porque me deste
mas não restam lugares para ouvir o que ainda dizes

já morri de te olhar e nada ver
e ainda novamente dancei nas tuas mãos para ser criança
como quando só te via a ti
e nunca tinha visto nada.

bétadine

bétadine dormira sobressaltadamente.

o conde g. não respondia às suas missivas e madame de t. demitira-a, subtilmente, dos únicos contactos sociais que interessam a uma jovem de boas-famílias em exílio veraneante.


um imenso tédio se adivinhava, quando bétadine foi supreendida pela chegada do primo.

fazia anos que bétadine não avistava o garboso j. , generosa e intrépida companhia de donzelinhas provincianas, voluntariamente alistado no exército de salvação nacional, furtando-se, assim, à oteliana fúria de certo marido menos dado às benevolências morais da hodiernidade.

bétadine exultou, mas fingiu uma frígida indiferença que para j. nada mais era senão um gracioso artíficio ao serviço da sua airosa distracção bucólica.
prometia-se uma auspiciosa estação em p. le -bain e bétadine haveria de ser a principal protagonista do longo relato que agora principiamos.


( ok, betadine é apenas uma solução dérmica amarelada,ok,preferem sempre a verdade dos factos,não é?ok)


to be continued

sons da manhã



ainda é este que mais gostamos.


e este um dos temas mais ouvidos ao longo da vida

porque talvez o meu país seja os teus olhos

( para f.)

porque talvez o meu país seja os teus olhos
e este chão onde digo que te espero
seja outra coisa.
outra coisa com nome de terra
quase isto, quase portugal
mas onde estou como quem já partiu.
porque talvez o meu país seja os teus olhos
da cor do mar
da cor do pinhal que será nau
onde irão muitos fazer de tudo mais longe .
donde estou avisto o céu e talvez estrelas nele
e tanto quanto queremos dizer
e não é nosso
e tudo quanto queremos saber
e não deixam.
porque para amar é preciso desconhecer primeiro
e deve haver quem para nós olhe
e tenha pena
e por isso nos deixe sozinho, sem verdade,
sem amigo
ai as flores do verde pino.

talvez eu não tenha
nada além deste país que morre
e me deixa no cais
a fazer pedra de tanta espera .
talvez eu não tenha
nada além deste país que morre
em que tudo tem
o nome que ouvimos
e outro que só deus sabe .
aqui nesta terra há tanto santo, tanta fé
mas morre-se
como quem não viu nada e nada disse.
aqui nesta península,
o mar começa e a terra acaba
sôbolos rios que vão.

aqui nesta terra
sem índia e sem ópio
sem pessoa
como quem pede muito mais do que pode ser,
aqui neste país,
tejo e rosmaninho,
sino da minha aldeia,
aqui neste terra ,
em que de repente dizem
que somos europeus ,
desaprendo este jeito de península
esta maneira quieta de encolher tanto
que quase é tudo só mar
e desabraço-me deste chão
desta terra
porque talvez o meu país seja só os teus olhos.

o princípio é igual para todos

o princípio
é igual para todos
caminhar de terra em terra
para saber de cor os nomes
e a lentidão dos homens.

depois
aprende-se que cada pedaço de dia é um pequeno país,
às vezes o mesmo, às vezes não,
e que o céu não muda de cor por mudar de lugar.
ao passar sabe-se
todas as pessoas que dizem bom-dia
são pobres se não as ouvimos.

o príncipio
é igual para todos,
na terra ou no céu,
andamos devagar
para não apressar a morte.

filho pródigo

para regressar é preciso muito pouco
um coração arado basta
para ficar a germinar por dentro.

espelho, espelho meu

sim, eu já devia saber, dia-de-semana e vinho branco, não. hic.

tirsdag, mai 10

política urbanista

o único objectivo deste post é empurrar o precedente, evitando a sobreposição de imagem com texto.

província,sim, mas com plano director municipal acertado e cumpridor.


Primeira Edição Une Saison en enfer. Arthur Rimbaud. Bruxelles: Alliance Typographique (M.-J. Poot et Compagnie), 1873. Binding by Rose Adler.

HAT TRICK

estamos em completa histeria, mas conseguimos recobrar o fôlego para dizer aos distraídos que além de nick cave, os pixies também vão estar em paredes de coura. e os arcade fire também!

i think i´m in love with you , hartley



hartley by alice neel


p. s lídia, antes de me considerares diga de internamento, recordo-te que o cirlot se apaixonou pela brownwyn, personagem de tela, também,ainda que de cinema.

círculos

depois de me insurgir com a não concordância de l. relativamente ao tio s. , eis que me replica ela:
com quem me dou bem é com o cioran.

pois bem, as filosofias são como os matrimónios. e não me cumpre a mim qualquer colherada.

alice neel

nadia

loneliness


é so unir as duas imagens e começar a história

mandag, mai 9

uma frase do tio

( ver post anterior para esclarecimentos relativos à parentela )

A prece não nos deixes cair em tentação significa: não nos deixes ver quem somos.

edipiano.

espelho,espelho meu

diz-me que hoje não disseste a uma amiga: ousas tu contradizer o tio shopenhauer?ímpia!

in vino veritas

nos últimos tempos, quando pergunto aos meus amigos como irão celebrar o aniversário a resposta tem sido invariavelmente a mesma: embebedar-me.

educação sentimental

por estas e outras muitas razões,se vier a ter uma filha, hei-de instruí-la para que comece a frequentar agustina bessa-luís a partir dos doze anos:

Casaram em Janeiro,depois do Natal, e foram para Paris.Précieuse passava na Avenida Montaigne onde o duque tinha um apartamento, e entretinha-se a ver entrar e sair os habitantes do prédio.Era gente elegante, duma fealdade sensual que deixava na sombra o encanto provinciano da bela Précieuse.O professor Fabre amanava-a como podia, habituando-se a julgá-la sua e alegrando-se com os sinais da decadência dela.Em dez anos Précieuse ficou irreconhecível,fez-se desleixada e erudita, copiava os apontamentos do marido e sabia de cor as suas conferências.Gostava de estar casada,de ocupar-se da casa e dos periquitos.Mas, aos cinquenta anos,achou que por baixo das suas olheiras e da culotte-de-cheval, estava uma mulher insuspeita e que nada tinha a ver com o professor Fabre e a sua carreira.
- É tarde demais seja para o que for- disse para si própria.
O professor ouviu-a.Ouvia sempre o que ela dizia,nem que estivesse a cem metros de distância.Sentiu uma espécie de triunfo.Ver a mulher que se ama engordar como um pote e ganhar cabelos brancos equivale a hastear uma bandeira no cimo de uma muralha.


AS TERRAS DO RISCO,P.13,GUIMARÃES EDITORES

arte pela arte

desgraça.
bonita palavra, não me serve de nada, mas é uma bonita palavra.


( uma das razões por que gostamos de romances novecentistas é pela facilidade de assitir a seres caindo em desgraça, é uma bela e fatalista coisa essa de cair em desgraça.perdeu muito o mundo e a literatura quando ficamos relativistas e recuperáveis)

boa educação

nunca me esqueço de agradecer, desculpar,sorrir e falar baixinho.nunca me esqueço de aniversário,baptizado,casamento e protocolo.continuo a achar desagradável homens em pé de casaco desabotoado.e mulheres que não estando desesperadas, e até o desepero tem um código de elegância,fumam pela rua afora.

só me tenho esquecido de educar o afecto.
precisa de ser reeducado, o meu afecto,deixar-se de exageros,de almodovarices,de prostar-se sincero e ser colorido.

preciso de um afecto em tons pastel,um afecto domesticado,bonzinho.
um afecto de boas famílias,circunspecto,bem-educado.

as pequenas coisas

há uma aranha minúscula na janela.talvez um dia eu seja esta aranha,desenhando uma casa de fios entre mim e a paisagem. ou pode ser que já tenha estes fios, e por isso fique sempre do lado de dentro,entretendo-me em ser funcionária e aborrecida.o mundo a prometer tanta coisa e eu sempre aqui, do lado de dentro, a fazer de conta que um dia sim,um dia atendo o telefone e sei que já chegaste.
este dia de sol e vento e eu aqui,aquecida à luz do candeeiro,como se quisesse mesmo dizer alguma coisa, e não simplesmente esquecer que as cidades demoram muitos anos a envelhecer.

frases emancipadoras

francamente, minha querida/o, não me ralo nem um bocadinho.

( pode ser substituído por calão de forma avulsa, em inglês cai especialmente bem)

uma questão nobilárquica

outra conclusão a que cheguei, na costumeira actividade hermenêutica da publicidade medium nacional, diz respeito à creditação genealógica.
nos últimos meses, todos os «resolve-tudo-resultado-imediato» referem a ancestralidade e hereditariedade dos seus dons.
o naturalismo positivista convive alegremente com os fenómenos da vidência.

mestre bah

algo que aprecio muitíssimo nos cartões de medium-resolve-tudo que surgem na caixa do correio é o seu especial fervor proletário.
nos seus horários de atentedimento deparamo-nos quase sempre com uma funcionalidade digna de estação de serviço:segunda a sábado, das 9 às 20, exceptuando-se,pois,o dia do senhor.
fosse a produtividade nacional entregue aos cuidados destes «especialistas de todos os trabalhos» e estaríamos no podium da competitividade.

meteorologia

esta noite espera-se com um blogue de humor jacobino e muito propenso a radicalismos a norte do rio tejo.

eu,tu e a minha neurose

o sentimento da culpa é extraordinariamente verborrágico.ou seja,um complexo de rashkolnikov.
gostamos de padecer do mesmo a cada quinze dias por uma questão de higiene.

espelho,espelho meu

diz-me que não comeste quase metade da embalagem tiramisu carte d´or em apenas 12 minutos e pouco.

Literatura Explicativa

O pôr-do-sol em espinho não é o pôr-do-sol
nem mesmo o pôr-do-sol é bem o pôr-do-sol
É não morrermos mais é irmos de mãos dadas
com alguém ou com nós mesmos anos antes
é lermos leibniz conviver com os medici
onze quilómetros ao sul de florença
sobre restos de inquietação visível em bilhetes de eléctrico
Há quanto tempo se põe o sol em espinho?
Terão visto este sol os liberais no mar
ou antero de junto da ermida?
O sol que aqui se põe onde nasce? A quem
passamos este sol? Quem se levanta onde nos deitamos?
O pôr-do-sol em espinho é termos sido felizes
é sentir como nosso o braço esquerdo
Ou melhor: é não haver mais nada mais ninguém
mulheres recortadas nas vidraças
oliveiras à chuva homens a trabalhar
coisas todas as coisas deixadas a si mesmas
Não mais restos de vozes solidão dos vidros
não mais os homens coisas que pensam coisas sozinhas
não mais o põr-do-sol apenas pôr-do-sol

Ruy Belo


( avisam-se os provincianos e não provincianos que repostarei este poema outras vezes ) ( e outros também, gostamos da reiterção dos afectos e lemos diferença e repetição em idade fatalmente precoce)

visa 676

é aquele que é necessário para permanecer na austrália por mais de 3 meses.
nos últimos três meses,apenas 686 pessoas visitaram a página onde se obtém o formulário de pedido para este visa.bom,agora são 687.

søndag, mai 8

os nossos gajos

jeff

elliot

bonnie prince

as nossas gajas

rosie

chan

holly

espelho, espelho meu

diz-me que é mentira, que não ficaste um serão inteirinho a ver uma adaptação bacoca de anna karenina porque te apetecia ver bailes em s.petersburgo.

diz-me ainda que,de seguida,exactamente de seguida, não ficaste a ver guerra e paz ,por king vidor, quase pelas mesmas razões.



gostámos mais dos bailes do segundo filme, mas audrey hepuburn é uma culpada e tanto.

(e apaixonámo-nos pela cena em que natascha encosta a cabeça na carruagem que abandona moscovo, a luz do sol no seu rosto desaparece devagar, aos poucos, em túnel,mas naturalmente, até se ver apenas os olhos e depois nada)


agora só me falta dizeres que depois disso ainda foste continuar leitura de o idiota.

vil passarada

as únicas aves decentes são as que ficam ao largo.
são ridículas todas as aves que ficam mais tempo na terra do que céu e, muito especialmente, todas aquelas que circulam com à vontade entre as humanas criaturas.
são francisco não me imbuiu de amor pelas aéreas criaturas. tenho delas uma notória,aflitiva e embaraçante fobia.

tal facto significa uma incapacitante existência com praças europeias por atravessar, ruas que evitamos por má frequência, estações de comboio em que,permanentemente, somos assaltados por uma inquietação de foragido,manhãs em que nos despertam álacres avezinhas que se revelam piores na varanda que qualquer okupa em bairro urbano.

já não ia aos jardins do palácio faz tempo.eu diria anos, mas estaria enganada.
ontem fui aí perseguida por um galo branco, um pavão, duas rolas, alguns pardais que entretanto se juntaram às hostes,para além das habituais pombas.
obrigada,lídia,por alguns momentos guarda-costas que merecem condecoração.

não entendo o bucolismo que faz achar-se agradável ter aquela infame passarada a deambular por ali.
lamento muito, mas sou inteiramente favorável ao regime de reclusão presidiária das avezinhas.
por que é que nunca ouvi ninguém lamentar-se,ao ver um peixinho num aquário, ai coitadinho, peixes são para andar livres e soltos, no mar ou no rio ,não para permanecerem impiedosamente presos em vis aquários?
mas parece que só as aves inspiram sentimentos libertários.

aviso à navegação

alexandra,alexandra,alexandra,três vezes o meu nome escreveste. mas no teu texto não era eu quem estava.

consumismo reentronizado

depois dum périplo no mundo de los trapos(há mais razões entre o céu e a terra,blá,blá,blá), o nosso consumismo acertou novamente as suas agulhas.fomos à urbe e
arrebanhamos aquele grande rio eufrates, ruy belo ( sim, fazemos a colecção em volumes da presença, e por ela temos muito apreço).e mais as terras do risco , agustina . (« quem se impressiona muito com uma paisagem está a esconder os seus desejos íntimos».) completamos com o primeiro amor de beckett e o banquete de platão,volume direccionado para oferta, depois de relido:«o amante está mais próximo dos deuses que o amado uma vez que se encontra possesso de um deus».

uma destas horas, saímos de casa e conseguimos parar de ouvir rosie thomas. mas talvez isso seja só no começo do outono.

lørdag, mai 7

farewell



Farewell so long cause
I was wrong I guess
Farewell so long cause
I was wrong I confess

...

I never asked you for
A sailboat in the yard
Or that fancy dress to wear
Or a ceiling made of stars
And all I got was just this
Broken heart from you

I'm done.

ó portugal dos pescadores de espinho

ó portugal dos pescadores de espinho
espinho do suicida laranjeira espinho praia
antiga amiga e conhecida de unamuno
a praia dos seus últimos passeios portugueses
angústia atlântica e odor ó dor olor a campo
praia que so' existe quando alguém a veste
coisa que foi somente quando tu mulher a viste


* excerto do poema odeio este tempo detergente, ruy belo ( o perdão pelo truncamento )


( da minha janela avisto os barcos destes pescadores, os mesmos,quase os mesmos. cada dia menos. cada dia menos mulheres de preto que falam alto e têm pernas grossas.
ouço também o sino da capelinha de s.pedro, no bairro piscatório.por causa de capelas assim, pequenas e toscas,cheirando a flores frescas, capelas donde se ouve o mar, sinto-me crente, mesmo que isso seja impossível.
por causa deste cheiro a mar e destas vozes,por causa da nortada sei onde não tenho medo de estar vazia.
ó portugal dos pescadores de espinho, se eu soubesse aqui nascer )

f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f.f

encontrei o caminho de volta e estou inteiramente perdida.

variação sobre o tema

paz à sua alma
dizem alguns
tão nova,coitada
ainda outros
e eu quietinha
como o outro
debaixo da terra
a rir-me de não lhes doer nada.

adaptação em verso

do texto de joão bonifácio sobre matt elliot, suplemento y do jornal público,6 maio 2005

uma caixinha de música
para bailarinas de porcelana quebrada,
um relicário com demónios lá dentro
um bonsai com garras em vez de ramos
uma planta carnívora
cujo maior esplendor é o seu lento definhar.

música de solstícios
de palavras
à procura do poder hipnótico
da crença na oração

música de um tempo ausente
nem anterior , nem posterior
música ao lado do tempo
música que no seu movimento
deixa de si
apenas o que poderia ter sido
(pois nunca chegamos a saber o que é)

música de uma errância cigana
música de quem se ajoelha para rezar
e esquece as palavras
e não há chão
e as mãos unidas não se sabe para quê.

escusado será dizer: música tristíssima.


apetece pegar na mala
deitar fogo à casa
rasgar fotografias
esquecer nome, rosto,mulheres,país
o estado do fígado,
sair, entrar no primeiro comboio
e não voltar nunca.

escusado será dizer : música tristíssima.

fredag, mai 6

alexandra morreu hoje
filha de pai ausente
eterna saudade de damien day,
não deixa filhos, poema ou herança.
de seu o mar
a ninguém testamentou,
arregimenta-se o estado
assim se proceda.
de tristeza,calúnia ou amor
ninguém sabe,
em paz repouse.
no epitáfio por si redigido
lê-se:
para sempre adiada.

incompletude

cresci ouvindo dizer:antes de nasceres,pensávamos que eras dois.
eu era dois.família confusa a minha.

arquivo

o capítulo mais extenso da minha biografia em 26 volumes é o da ausência.

coqueiro (post abreviado)

( não sei quantas mais vezes te poderei dizê-lo, mas sei que aí estavas.e sim, cansei-me, cansou-me, até tu, sozinho, te cansaste. agora, é só arranjar uma culpa de ocasião,prometer que ficamos amigos para sempre, e não falarmos nunca mais.)

torsdag, mai 5

haute-couture

corte na aldeia

na província gosta-se de wong kar wai. na província acreditamos que tony leung nos poderia convencer a utilizar sistematicamente a nicotina.na província suspira-se com os ombros de tony leung afastando-se. na província os exageros bovary são bem-vindos e merecem aplauso entusiástico.



esta solidão de ti

estar assim aqui
esta solidão toda feita de ti a crescer pelos dedos
estar assim aqui
tu não vês,
ter frio e andar à deriva,
temos um encontro marcado,só eu sei,
mas esqueci-me do lugar.
estar assim aqui grande como os continentes
enquanto tarda a alegria e se vai ficando velho
como as pessoas que acordam cansadas .
estar assim aqui,nesta solidão toda feita de ti
como a ponte cheia de carros parados,
as pessoas fechadas pelo lado de dentro ,
este dia,
este vento,
estas mãos
que passam pelo teclado e não escrevem o teu nome.
esta solidão toda feita de de ti é uma geografia
como ter o coração do lado errado,
ir pela vida e os nomes serem todos impuros,
é lisboa sem o tejo
o rei sem reino
e os barcos ao longe, perdendo o cais

esta solidão de ti toda feita de ti
como querer andar e estar morto,
meu amor,
querer dormir e ficar cego
chamar-te
e a terra inteira estar para sempre deserta.

beija-me

gostas de achar que sabes tudo.inchas as palavras, ornas o discurso e lá vais tu, fazendo estragos,aqui e acolá, como quem deve e não teme.
gostei de ti porque me davas medo, porque eu sabia mais do que tu e mesmo assim me ganhavas. eu a ficar nervosa, os factos a nebularem-se todos, e tu, sem saber coisa alguma, a ganhar-me .
que vergonha.
penso em ti e lembro-me do robert de niro a dar murros no filme do scorcese, o sangue espichado na audiência, devagarinho, muito mais do que na verdade, com muito silêncio.
tens medo?agoras és tu.só porque eu falei em murros e sangue?tu tens tantos medos, tu és tão convencional, tu não sais da linha, tu achas bonito que as rapariguinhas se pareçam todas com a tua mãe aos 25 anos.

tu não sabes nada e ganhas-me sempre, porque eu deixo, porque eu sei mais,mesmo que eu seja mais pequena,e mais nova, e o teu abraço ainda cure todas as minhas febres. qualquer dia vou trocar gostar de ti por amar-te para sempre e depois vou ter muita raiva de ti e deixar-te.
sim, gosto de ti por teimosia, porque não concordo com o que dizes, as tuas palavras não prestam, e nem sequer sabes dizer o nome deste mar .
agora estraga mais um bocadinho o meu dia e faz-me feliz: beija-me.

relento

despeço-me de ti, os olhos incendiados, vou para a cama, dorme bem, obrigada, mas é mentira.não vou para a cama, fico aqui, fico aqui a mentir, fico aqui a crescer dentro de mim e poder ser maior do que tu , do que esta noite em que não tive nada a ver contigo , em que estamos longe e foi uma invenção tua, porque tu é que estás longe.

eu fiquei sempre contigo, não te deixei um minuto,e ,entre os km que te fazem longe, há horas com poemas que não lês, pássaros que colo no céu, barcos que ponho no mar e mapas que dobro e envio pelo correio para te lembrar onde estou , qual o caminho.
por essas horas sou doce e digo que gosto de ti,tu não ouves,fico quieta, embrulhada no meu coração, à espera que não me deixes cair.

fico aqui , como quem não tem mais manhã depois desta noite, como quem espera e acredita, tu vens, um dia chegas aqui e somos nós outras vez, um dia apertamo-nos tanto que somos um só , um dia sabes que o meu sorriso é este que agora esqueci de fazer porque tu foste cir-cuns-tan-ci-al comigo.

esta noite minto-te, não vou para a cama, fico aqui, ao relento, à espera que me salves. à espera de ser eu outra vez, à espera de dizer baixinho gosto de ti e não ter medo se não disseres de volta eu também.

do jogging

temos corrido menos.sim,apetece-nos o plural humílimo. tem-nos apetecido pouco,estamos com maior concorrência desde que o tempo aqueceu e também o jogging, se nos figura como actividade essencialmente misantrópica, com a graça do senhor.

por outro lado,atentaremos no excurso mental de chungking express com mais acuidade.
recomenda-se no dito a afoita peregrinação joguística, para que esgotados os líquidos do corpo na actividade, sobrem muito poucos para lágrimas.
a correr vamos.

já um dos outros excursos mencioanados em chungking express se revelou pouco profícuo quando posto em experiência.
em portugal,não é, realmente, uma boa ideia praticar o quase harakiri que sujeita os indíviduos,após promessa mental, a apaixonarem-se pela primeira pessoa que for avistada.

velho clássico

ah, meu querido, que previsíveis são os homens. faço de conta que não vejo , tu pensas que eu sofro. quando chegas a casa, pergunto como foi o teu dia,ofereço -te o rosto ao compromisso do beijo, o lado direito , sempre o lado dierito, e apresento a tua sobremesa preferida.

gosto muito de te fazer sentir culpado.é irresistível. o teu olhar a pedir perdão em surdina,tantos anos, coitada,que seria dela se, não é assim que pensas? se soubesses que enquanto o tricot vai crescendo, eu rio e dentro de mim há continentes inteiros que tremem. tu a pensar que me enganas e eu a a fazer de conta que não sei de nada.somos tão bons nisto, não é?

já não tenho espelho.não sei se alguma vez me doeu, não me lembro da hora em que soube, sabes,amélia,o miguel.o miguel reticências.
a rosalina do emprego,o velho clássico,pois claro.tão banal.podias ter fugido,comprar outra casa com flores de plástico e aquela pintura do menino que chora na parede. naperons a mais na cozinha e uma deselegante alegria doméstica a cada domingo.

ficaste por culpa. não, por cobardia. tens medo que me mate, me atire das escadas abaixo , corte os pulsos.tens medo que eu tome 24 valium e adormeça ao teu lado até que a morte nos separe.

tu eras tão novo. eu já sabia que era infeliz, mas tu tinhas ainda esperança,eras um burguesinho que acreditava na felicidade. não te soube explicar, 14 anos e não te soube explicar.

a rosalina.moça afoita, ouvi dizer, dois filhos, 3 casamentos.outra tolinha a insistir na promessa do amor,da roupinha a secar ao sábado e o cabeleireiro da parte da tarde.

não tenho paciência. amanhã telefono-lhe, peço para vir buscar as tuas malas. sim, isso mesmo, não olhes para mim dessa maneira. vou só fazer de conta mais um bocadinho,não custa nada,sossega. hoje não tomo 24 valium, nem me atiro das escadas abaixo e nem corto os pulsos.

esta noite sou apenas a mulher honrada e traída que não sabe de nada.

tirsdag, mai 3

deuses

( para f. )

um dia voltaremos aqui,
à cidade que só hoje existiu,
voltaremos ao tempo em que o vento dói no corpo
e o teu nome é puro .
voltaremos para sermos imperfeitos
e não dizer adeus,
para fazer este tempo
e esta guerra.
um dia voltaremos aqui,
à cidade que só hoje existiu
para sermos deuses numa tarde de sol.

comemoração do 10 de junho

por uma questão de nacionalismo,regressar, entre outras possibilidades,a um dos deambulares preferidos pela gerência: o le marais.

mandag, mai 2

alfa

hoje só consigo ver,cheirar e pensar em




p.s lídia, não avistei o paul auster

No Celeiro

  • juni 2004
  • juli 2004
  • august 2004
  • september 2004
  • oktober 2004
  • november 2004
  • desember 2004
  • januar 2005
  • februar 2005
  • mars 2005
  • april 2005
  • mai 2005
  • juni 2005
  • juli 2005
  • august 2005
  • september 2005
  • oktober 2005
  • november 2005
  • desember 2005
  • januar 2006
  • februar 2006
  • mai 2006
  • juni 2006
  • juli 2006
  • august 2006
  • oktober 2006
  • november 2006
  • desember 2006
  • juni 2007
  • september 2007
  • november 2007
  • desember 2007
  • februar 2008