mandag, august 30

fotografia impossível

está uma soberba lua cheia , parece tão ao alcance dos meus dedos como se os lambuzasse.e o mundo se faz valer nestes instantes.acendo uma vela na cortina de sombras que o vidro interpõe entre o meu rosto e o resto da paisagem.
enquanto o céu é assim, permito-me um incerto descanso.

fado trocado

se ao despejar as gavetas, o armário, a casa despejasses também o coração...

será que existem ainda patéticos?

-esperaste muito ?
-esperei tanto que as árvores vieram morrer às minhas mãos abertas.
-por que as tinhas abertas?
-para te mostrar o destino .
- e agora?posso ainda vê-lo?
-não,nunca mais.


inútil paisagem

podia começar o texto dizendo de repente perdi-te,mas era mentira .
não te perdi assim, perco -te aos poucos , em soluços que tropeçam de medo e confusão.
perco-te em cada sorriso que não verei , em cada palavra por escutar,nos dias pequenos que a distância aumenta.
era tão grande a alegria que julguei ter caminhado toda a terra num só abraço, por isso agora sobra-me o deserto de ficar cansada na vida.
a leveza, sim,abandonu-me num repente e de tantas vezes ensaiar despedidas ficaram-me as personagens todas sem boca.
um dia eu retorno , outra paleta,mais palavras.
a alegria não tem hora marcada e eu sou tão cliché como o fim da festanum filme banal .
se um dia te lembrares,esquece.
eu deixo a terra de casaco aberto e quando for outono há-de ser primeiro no meu peito vazio.

lørdag, august 28

not easy listening, o no my dear

dos madrugada, uma música cheia de certeza:

step into this room and dance for me.




( e com floquinhos de neve entre os versos , como eu dizia ontem )

no more faith,no more hope,no more

tenho a certeza que haveria muito mais no saco de winnie do que o que poderia ter sido mostrado .
o que terá beckett escondido ?

corpo e mundo em dois instantes

(razões.explicações.vidros sujos.livros para devolver.canso -me demais,sem música,sem verso,sem festa.não espero pelo consolo nos nomes,nos ombros nem nos lencóis.
demasiado vazio é muito perto para gritar e eu não ousaria.brandamente espero ,quieta vendo o mar que me poderia levar.há aqui tantas cadeiras e nenhuma senta o que me pesa.repete-se o sono , o dia ,as horas velhas que se desfolhamos sem saber.
os pulsos não têm regras e nada acontece ,tudo passa.tu passas,as agulhas no peito passam , e até o céu ,velozmente, nos passa .agressão.
nas minhas mãos vejo-te como quem sorri a uma paisagem nova.mas é so distância , é só distancia o que acontece.tudo passa e não morremos de susto.morremos aos poucos como um sino sem torre.)







em certas horas
encontra-se nos vidros, na abstração
do sujeito na paisagem,
um qualquer dia morto.
sem arquivo e sem poeira
deixando a memória num processo aflito
onde a procura não coincide contigo.

estava tudo tão escuro
que entre as árvores e o céu não havia distância
podia saudar-se de perto os deuses como companheiros de viagem
e nós
ébrios e marítimos
fomos o consolo e o deserto num só instante.
tudo que faltava era partir
buscar um ritmo
uma odisseia
atravessar um barco nas cordas dos nossos nomes.

é então que inicio a desorientação
surgem frases com a sintaxe toda errada
e torno-me tão subterrânea como uma mentira.
guardei no meu corpo todos os gestos
mas não encontro
as palavras com que disseste adeus.

fredag, august 27

A prova de que meios inadequados,infantis,até,podem salvar-nos do perigo :
Para se proteger das sereias,Ulisses entupiu os ouvidos com cera e ordenou que o amarrassem ao mastro.Naturalemente que qualquer viajante que por ali passara até então poderia ter feito algo semelhante,excepto aqueles que as sereias atraíam já à distância.Contudo é bem sabido no mundo inteiro que estes expedientes não ajudam em nada.O canto das sereias atravessava tudo e a paixão dos seduzidos era capaz de vencer obstáculos bem mais fortes do que correntes e mastros.Mas Ulisses não pensou em nada disso , ainda que já tivesse ouvido falar do assunto .Confiou então completamente num punhado de cera e num molho de correntes,e depositando no seu estratagema uma alegria inocente,navegou ao encontro das sereias.
Só que agora,as sereias têm uma arma ainda mais aterradora do que o canto , e esta é o silêncio .Nunca aconteceu , mas é talvez concebível que alguém conseguisse salvar-se do canto das sereias , mas certamente que não do silêncio .O sentimento de as ter vencido com as nossas próprias forças e a exaltação que daí resulta e que tudo arrebata, a isso não há poderes terrestres que resistam.
E, de facto, quando Ulisses chegou , as poderosas cantoras não cantaram , seja porque acharam que este inimigo só poderia ser vencido pelo silêncio ,seja porque a expressão de felicidade no rosto de Ulisss,que não pensava em nada senão na cera e nas correntes , as fez esquecer o canto .
Ulisses,contudo,não lhes ouviu , por assim dizer, o silêncio .Julgou que elas cantavam e que ele era o único que não as escutava.Por breves instantes,vislumbou-lhes os movimentos dos pescoços, a respiração profunda ,os olhos lacrimejantes,as bocas entreabertas,mas pensou apenas que estes movimentos acompanhavam as árias que pairavam em volta dos seus ouvidos surdos.mas logo tudo isto se desvaneceu de frente da vista dele , fixada na distância.As sereias desapareceram literalmente perante a determinação do navegador e , no momento em que se aproximou delas,perdeu-lhes o rasto.
As sereias,contudo _ e mais belas do que nunca _ esticavam-se e voltavam-se na direcção dele , deixavam o vento soprar seus cabelos arrepiantes,arranhavam as garras livremente sobre as rochas.Já não queriam seduzir , queriam apenas guardar o máximo que pudessem do brilho irradiado pelos grandes olhos de Ulisses.
Se as sereias fossem conscientes , teriam sido aniquiladas naquele momento .Assim , deixaram-se ficar , e apenas Ulisses conseguiu escapar-lhes.
Também se conta uma explicação para este caso.
Diz -se que Ulisses era tão astuto,uma verdadeira raposa,de tal modo que nem a deusa do destino conseguiu penetrar-lhe as defesas.
Talvez_ ainda que , neste caso , o entendimento humano já não consiga lá chegar_ Ulisses tenha realmente reparado que as sereias estavam caladas e tenha montado aquelas fingidas precauções como uma espécie de escudo protector.


Franz Kafka, Contos,« O silêncio das Sereias»,p.33,Cavalo de Ferro

como sobreviver a uma canção assim?

Eu te amo

(Tom Jobim - Chico Buarque1980)

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
partir

greeting card

o que quero antes de se fechar a casa,antes do verão ser outono e se recolherem os frutos em fotografias indivisíveis?
o que quero não tem nome e já morreu.
no peito pousam as cidades que foram nossas e as pessoas pesam-me com seus sobretudos de aço .não me trazes a água nem o linho puro onde cosa os olhos.
mas estamos ainda aqui.
antes do fim do verão, antes da casa fechada e não me resta o que te dizer.as unhas inventam papel rasgado e os olhos fecham-me no mundo que não te vê.
um dia o pó,outro o resto e de tudo só o que quisermos.
entretanto fico magra,estrangeira nas roupas que me vestem sem ti, enquanto adormeces na cama onde o meu nome é um osso atravessado.
antes de fechar a casa,as gavetas que esvaziamos respondem por nós e são tudo o que não é silêncio.

torsdag, august 26

*ºººªªªºººªªªª*****

e.e cummings

in time of daffodils


in time of daffodils(who know
the goal of living is to grow)
forgetting why,remember how

in time of lilacs who proclaim
the aim of waking is to dream,
remember so(forgetting seem)

in time of roses(who amaze
our now and here with paradise)
forgetting if,remember yes

in time of all sweet things beyond
whatever mind may comprehend,
remember seek(forgetting find)

and in a mystery to be
(when time from time shall set us free)
forgetting me,remember me

relembrando uma conversa familiar

mais de carl sandburg

BONES


Sling me under the sea.
Pack me down in the salt and wet.
No farmer's plow shall touch my bones.
No Hamlet hold my jaws and speak
How jokes are gone and empty is my mouth.
Long, green-eyed scavengers shall pick my eyes,
Purple fish play hide-and-seek,
And I shall be song of thunder, crash of sea,
Down on the floors of salt and wet.
Sling me . . . under the sea.

(além-mar também se gosta de névoa )

LAST ANSWERS


I wrote a poem on the mist
And a woman asked me what I meant by it.
I had thought till then only of the beauty of the mist,
how pearl and gray of it mix and reel,
And change the drab shanties with lighted lamps at evening
into points of mystery quivering with color.
I answered:The whole world was mist
once long ago and some day
it will all go back to mist,
Our skulls and lungs are more water than bone and tissue
And all poets love dust and mist because all the last answers
Go running back to dust and mist.



de carl sandburg

soul download

soul downloading file:
floating
el aire l `air les nuages
je suis impossible comme un ombre of sunlight
laetitia bonheur and hapiness
sont
mes larmes mi dolor
tu nombre dans mon chambre,mon coeur,my walk
your path donde estás ahora?
je suis tombée amoreuse ça va?
i wish dreams could be cold,cold as ice neve,snieg,do svidania,i can´t write la sangre
je suis etrangere j ai des nuages je suis l absence de mon nom.
smoke,smoke , the air is distant,its all windows,no te veo,no ,non
floating is so impossible,ophelia,ophelia,
le peur,el miedo,paura,
i ll end in a circle , a perfect circle, que me dices ?
no vengas,no me pidas lo que digo , ask me shadows
ask me les nuages and say nothing
i have nothing to say,
nothing,
no not a thing
no
files downloaded
error error error

where is my mind (interrogatio plagiando pixies)

a lídia ensinou-me que nesta coisa de postar havia várias divisões.que alguns posts ficavam em segunda divisão,pacientemente aguardando a subida à primeira.
paciência,metodologia,método foram coisas em que a divina providência se mostrou especialmente cuidadosa e ,assim,não me posso ufanar de as possuir com prodigalidade.hélas.mas este era um post made in segunda divisão.repescado ao abrigo da política comunitária de quotas e tudo.




logo à tarde vou estar sentada numa cadeira e corro o risco de fazer ficção.é preciso falar dos sintomas,do espelho,da centrifugação mental.
sintoma,sim.eu,não.
não sei em que paragem de autocarro saiu a escrita.
bebo devagar,na garganta só há ecos de café.o mar de pré-setembro é o mesmo do fim de agosto.é aí que estou:de pé indeciso,caminho ao sol com incertezas de sombra .
sintoma?complexo?mutualidade unívoca ?reciprocidade descontextualizada?metáfora manca,sinédoque encalhada,osso , osso,osso.
lembro:winnie ao acordar suspira: mais um dia divino!mais um dia divino!mais um dia divino!mais um dia divino!mas willie dorme.
sintoma?
a palavra é o meu sintoma e estou impossível de palavras.palavras.
desconexa,desmentida,despenteada.
as palavras despenteadas nos lábios e só o vento , só o vento , só o vento .
do mar a mim , de mim ao mar quantos corpos se distanciam?quantos barcos acontecem nos olhos?quantas vezes respondo?jornal velho.estória acabada.princípio pastiche.trim,trim,trim,telefone de palco.voz de papel.
descoberta sou uma voz de papel e rasgo em centímetros,em litros, a confusão,o labirinto ,a torre .
rasgo a língua com paciência.com deferência.
entrou um baloiço .tenho um baloiço no meu soluço -sílaba.
no soluço -texto.
na voz de papel.
no grito que me voa cansado e de asas gastas .
plano, rota,destinho:dormir num livro maior,num mundo maior,numa cama mental.
sintoma?
um giz branco a riscar o coração.lâmina?de mão pronta e corpo em trânsito habito a terra.ante-ante- pessoa.pós -identidade.pré -eu.inter verbo.
semi -nua,semi- descoberta,semi- verdade,seminal.
neo- geo. o topos .utopos.
não há escolha entre a palavra que se cala e a palavra que se quebra.o que sobra é silêncio.o que me resta é barulho .voz.desumana.trim trim. onomatopeia fingida.finjo -me?interrompo ?calo -me?
sintoma?
procuro a voz que me diga ou o processo que me anule?
sento me na cadeira e sintoma?
sintoma?
sintoma?

tirsdag, august 24

problemas de vizinhança

o meu próximo hoje foi um blogue chamado «euro2004»...
ai,viver em condomínio é isto:um dia sai-nos um pensador uruguaio,depois uma salerosa mujer de madrid a terminar com um adolescente confuso.
e bom dia a todos.eu afinal moro aqui.(ahahaha, o meu humor anda tão pindérico)

utensílios

pérolas retiradas da minha página do multiply o que confirma tudo.posso até nelas não crer,pero...


søndag, august 22

tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu
eu tu eu tu eu tu eu eu tu eu tu eu tu eu tu eu eu tu eu tu
tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu tu eu
eu tu eu tu eu tu eu eu tu eu tu eu tu eu tu eu eu tu eu tu
eu tu eu tu eu tu
tu eu tu eu
eu eu eu eu eu eu
eu

lørdag, august 21

post roubado das torneiras

edição de bolso,edição limitada


ter vinte cinco anos é isso_uma edição de bolso.a história não é boa,a letra é pequena,o autor desconhecido e as capas,pobres e de fraca qualidade,quebram-se e rasgam-se.
as edições de bolso são aquelas que ficam esquecidas, no banco dos comboios.desses comboios que deviam sempre ir ter a paris.ou a praga.ou a s.petersburgo.
que deviam ir ter contigo.

fredag, august 20

a ti,a todos os amigos,e a ti , e a ti

ela tem o nome que eu daria a uma filha,se algum dia a tivesse.
alice.
e escreveu-me uma coisa bonita:sabes como se diz,se precisares de um ombro,eu tenho dois.

que reste-t-il de nos amours?

não ouvi mais música.os meus sentidos alteraram-se na maior abstracção.fiquei visual.será que a visão é o sentido da perda?

interrogatio pré-anestesia

emily dickinson afirmava que a esperança, a esperança era essa coisa com asas.adoro-a.mas a esperança é essa coisa com pernas curtas.como a mentira.
(as minhas mãos pertencem ao vazio das mãos que amei)

do real

os vidros
sujam-me mais que a casa
arranham-me os olhos que queria salvos entre o linho.
na gaveta do lado direito
é tudo já vazio
mas a mão procura o relógio
e os papéis trocados
o desejo
horas em que os gestos foram feitos de tudo .

no último dia
a porta fecha-se e a chave volta.




um desenho de rodin,como eu gosto deles...


Quando alguém parte,tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto de vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar a faca nas ondas
e afundar o sapato,
coração,âncora e cruz,
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois regressará,
Quando?
Não perguntes.


Ingeborg Bachmann,O Tempo Aprazado,Assírio e Alvim,pag.75


de edward weston,por quem tanto me apaixonei.




torsdag, august 19

onde não cabe a pele,cabe o vazio

um grito que me amarra
na boca
nos olhos que te matam
e dentro de mim um barco quer ser osso.
espero ainda
mas não há cama
para uma noite assim.

o futuro todo ficou passado .

conheci muito cedo o sabor da casa vazia.o teu lugar a morrer,a cama maior que tudo ,as roupas com muito cheiro e já sem corpo.

reconheço outra vez os mesmos sinais.a desabitação do lugar.a dor antes de abrir a porta.calculo o silêncio cuidadosamente.
toda eu sou a espera do vazio .a quem pertence este vazio?faltava tanto, eu diziahá poucos dias,há poucos textos.faltava repetir o beijo,faltava praga.e já tudo falta.
ensaiei tantas vezes a despedida que não me sobra agora o dizer -te adeus.
sou pobre como este chão gasto e não caibo nos lugares que me deixam vazios.

onsdag, august 18

estado civil

que roupa em tanto vazio?

que chão para tanto silêncio?

é isso, mas ele disse-o

Um Adeus Português


Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada


Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor


Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver


Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual


Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal


Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser


Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal


Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti




Alexandre O `Neill

tirsdag, august 17

foi assim em junho

(lembras)


colagem de fim-de tarde
(para r.)

como o sal , o sabor.
como o mar ,a escuta.
tua boca .

patético

recolhidos dos empoeirados arquivos das torneiras,dedicados a r.,sempre,que foi quem mais os amou:


patéticoI
sabes? gosto de ver esta estrela que tens aqui no ombro esquerdo.
miguel , não digas disparates...
está bem , eu não digo .mas amavas-me sem disparates?
não.então tenho de continuar a dizer,para me amares.
miguel , amavas-me se eu não tivesse uma estrela no ombro esquerdo?
não .


patéticoII


tens lume?
não ,mas tenho uma alma , queres?
a tua alma dá para acender este cigarro?
dá...


patético III
abre os olhos , ou cais ...
mas eu quero é cair ...
se caires , dói ...
se eu cair adormeço deitada nas folhas...
e se eu te soprar até ao chão ?


patético IV
por que não olhas para o céu?
porque tenho medo de não acreditar mais em anjos .


patético V
fecha a porta .
já fechei .
agora dá -me um abraço que me arranque da terra.não te demores.

patético VI
fecha-me os olhos .
assim?
mais ...assim? ainda não ...
mas é impossível fechar mais ...
o que vês?
vejo a memória do mundo .



patético VI
se eu voasse eras céu?
ou estrela.
se eu nascesse eras ventre?
ou terra .
se eu fosse palavra eras boca?
ou poema .


patético VII
está tanto silêncio no mundo , hoje.
ouves a música?
não.ouço a tua pele.
há tão pouco luz ,nesta manhã...
vês o mar?
não.vejo a tua boca .


patético VIII
se te der este papel fazes um desenho ?
se te der o mundo , foges comigo?

patético IX
onde está a lua?
a prender -te os cabelos ...
bebe-a devagar ...e beija-me de seguida.


patético X
empresta-me a tesoura.
para quê?
quero recortar teu coração .
para quê?
para o costurar no meu .

patético XI
quem está aí?
a tua sombra...
queres entrar ?
não , quero levar -te comigo .


patético XII
donde vens?
do corpo de uma mulher.
estás só?
estou.
queres um ventre para nascer?


patético XIV
ele:porque desceste da árvore aquela noite?
ela:porque queria morrer na terra contigo .


patético XV
se te pedir um beijo , dás?
se eu não tivesse nascido ,encontravas-me?


patético XVI
podes ensinar-me a música?
qual ?
aquela que faz dançar a faca do coração .

patético XVII
estás perto de mim?
estou ...
prova-me.
se fechares a mão eu caio dentro de ti .

søndag, august 15

ondas do mar de vigo

se vistes meu amigo.


estou de partida e a primeira cidade é vigo. única certeza. depois arrisco-me aos lugares sem mapa.
reabre brevemente,

lørdag, august 14

birra

estou de birra com homero, porque não há presença de eros nas suas obras.hesíodo trata de lhe dar um papel protagonista e primacial , o que eu acho muito bem.
ontem , vendo a abertura dos jogos olímpicos, que achei muito bonita ,encantei-me com aquele eros nefelibatando.
enfim, baralho-me, mas lembrei-me de um dos mitos que mais me encanta, precisamente o de eros e psiquê.
afrodite,despeitada pela beleza tão cultuada de psiquê,encarrega o filho , eros de fazê-la apaixonar-se pelo mais feio dos homens.contudo,eros acaba por se ferir na própria seta e apaixona-se ele mesmo pela bela psiquê.
no entanto, ela não podia ver o rosto de eros e amavam-se na escuridão.o pessoa é que sabia , o mito é o nada que é tudo, porque o lugar do amor é sempre um lugar de trevas...
bom, mas temos aqui o motivo do interdito,sempre presente, que como é sabido está lá para ser rompido.e é isso que psiquê faz .certa noite aproxima-se de eros para ver o seu rosto.nesse momento eros torna-se invisível.
bom, depois valeu a intervenção do pai dos deuses(afinal,um cinquentão apaixonado)que ofereceu ambrosia a psiquê, transformando-a numa deusa.



Eros e Psiquê Grupo de mármore de Canova, terminado por Adamo Tadolini (1789/1868) em 1824. Villa Carlotta, Como (Itália).
p.s alguma correcção,charlotte?

torsdag, august 12

prateleira sentimental

partilhada pela emoção catalã


encontros acontecem às vezes assim.um nome , rashkolnikov , uma pergunta, outro nome, bovary .depois trocam-se poemas e há três pessoas em três distintos pontos da península que vão beber do mesmo poema.


paixão

descobri a fotografia de minor white e foi o mais completo enlevo.deixo aqui esta como recordação de uma noite feliz.





PROVERBIOS Y CANTARES

El ojo que ves no es
ojo porque tú lo veas;
es ojo porque te ve

PROVERBIOS Y CANTARES
, I, Antonio Machado

onsdag, august 11

nome de índio

às vezes cansa-me ver o meu nome por tantas vezes repetido.quisera eu ser uma clotildina andrómeca, mas não...
acho que os únicos a perceber disto na nomeação são os índios.nomes personalizados, irrepetíveis, imaginativos.
nós , ocidentais,limitamo-nos a ir à lista amarela dos nomes e escolher.
depois temos que aturar haver mais 86454 nomes iguais aos nossos.
o mesmo nome daquela pessoa que odiamos.o mesmo nome daquela pessoa feiosa e antipática.ou o mesmo nome de alguém que queremos esquecer que existe.
vou escolher para mim um nome de índio.até já.

espinho,11 de agosto de 2004, 17 horas e pouco ...


certeza confessional

r.

o teu abraço é o que há no mundo mais próximo do infinito

aflição

disponho os talheres
abro o pão
e fico assombrada no miolo vazio do meu nome

hoje soube de tanto
porque não havia quem me abrisse a porta de casa.

mastigo devagar e piso o escuro
não sei quantas réstias de mim serei amanhã
mas por ora
sobra-me o pão
e o silêncio que os vidros trazem.

les orkutiennes obscures mémoires

par madame folipô


no orkut há de tudo , como na farmácia.até aquilo que jamais quisemos encontrar, ver ou ter notícia.
há comunidade para todos os gostos , feitios,ódios,tendência políticas e sectores culturais.algumas com levado gabarito participativo e outras em que a mediocridade se intalou irremediavelmente.
engraçado que acabo de me cruzar com um espinhense como eu , participante de uma comunidade dedicada à discussão da língua portuguesa.abaixo a prótese fonética, podia ser um dos temas lançados para discussão.é este o nível .
e já me esqueci da razão de ser deste post...madame folipô anda tão viciada em channel 5 que lhe deu para ter estes arredios surtos amnésicos.

a verdadeira e inconfessável história de uma condessa apanhada de pés descalços

hoje acordei com uma compulsão à veracidade.então aqui vai a primeira: só criei este blogue para ter nele um peixinho dourado com legenda.
algo mais plausível e sustentável que isso?

invenções

sou melhor em tudo aquilo que invento.
precisava descobrir tudo que em mim inventei e fazer do resto navio apodrecido.

a chuva , o vento, o mar desassossegado

alguma coisa a combinar comigo, pelo menos ...

ma maison, mon peur

tenho um fantasma atado à garganta e quando me chamam e dizem o meu nome é também a ele que pedem para vir.

mandag, august 9

green eyes

( e há uma música do nick cave que se chama assim .começa por pedir ,imitando um poema da louise labé, kiss me again,rekiss me and kiss me )
para r.


quando te terei visto pela primeira vez?
eu sei o que vais dizer,houve aquela foto, mas não é a isso que me refiro.nem falo tampouco da tua chegada.
estaria frio?devia estar porque eu tremia bastante, mas houve um abraço, tudo como estava prometido.terá sido dessa vez que te vi?
ou foi apenas ontem, passado agora tantos anos?não sei se já te vi , ou te vejo todos os dias,contíguo.
será que tudo fica na escuridão?quem ainda amamos e já partiu , a lembrança mais remota ,o aniversário que esquecemos...é tudo tão ténue e inchado de esperança e significado .
a casa desabita-se sozinha, mesmo que ainda aqui estejamos.o mar da janela interrompe os barcos,os peixes e o céu fica escuro depois de todas as aves.
é hora.murmura devagar o meu silêncio e deixa-me olhar para ti.a noite está tão quietamente banal , não achas?talvez pudesses ainda dizer uma mentira , pegar nas minhas mãos e inventar uma estrela nova no céu .
nada é simples , e tudo é mais fácil do que o que podemos fazer.
gosto de ver os teus ombros nus e lembrar do poema do drummond.será que nos lemos drummond?falta fazer isso ,falta ir a s.petersburgo,pisar o sahara,falta atravessar praga sem saber o teu nome,falta voltar sempre , repetir o mesmo beijo .
eu gostava quando te deitavas na cama e fechavas os olhos ,esperando o poema que eu te diria.será que um dia me faltará a palavra do nosso encontro?
será que saberei dizer da hora, do instante e do medo que foi olhar-te pela primeira vez?
(kiss me again,rekiss me and kiss me )

les confessions et incertitudes de madame huynon

serei eu hetero ou auto confessional?
serei eu homo ou bi -ficcional?
poderei ser multi e media?
opto pelo pós ou pelo retro feminimismo?
cor ,bicolor, ou tricolor?
fico no consumismo , no ultra consumismo, no rejeicionismo consumístico, ou no consumismo rejeicionista?
mimimal ou barroca?
patriota ou apátrida?
matriota ou parricida?
crítica ou cítrica?
auto -destrutiva ou desconstrucionista?
(meanwhile,let´s do it with channel 5 )

clarice por armando freitas filho

Lispector

Certo ar que não é claro
nem escuro — que é de sol e chuva
ar que não chega ao vento
mas entreabre a porta
um palmo
ou a encosta sem fechar
igual àquela, de Duchamp
hesitante
parada no meio do caminho
interrogativa entre dois portais
em 1927: porta de saída de entrada, de comunicação?



(poema incluso no número 1 da revista inimigo rumor)

il pleut dans mon coeur

e eu estou muito contente.adoro chuva em agosto , na exacta correspondência que reputo o improvável calor de novembro.
prefiro a imprevisibilidade à quotidianidade,nem que ela seja meramente meteorológica.
aliás,meteorilógica.

fredag, august 6

nepotismo esclarecido

parte primeira

e parte segunda ( como todo o nepotismo esclarecido optimizado ede melhor resolução)

palavra

é o que importa, ter sempre a última palavra.até que a mortenos separe.

torsdag, august 5

inventário de algumas manias,neuroses e complexos vários

1.complexo bovary
2.neurose de ícaro
3.trauma de ariadne
4.complexo do minotauro
5.monomania citacional
6.desvio borgesiano
7.complexo de penélope
8.desvio de ulisses
9.alucinação de bacon
10.fixação utopista
11.perturbaçao discursiva de raskolnikov
12.pasargadismo exacerbado e incapacitante


maniqueísmos

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janelas

sim, uma vez mais e sempre.

da minha janela avisto um guindaste, fascínio antigo.gosto da sua exactidão geométrica e equilíbrio de aço .
e gosto de ver as pessoas que passam,a fazer a vida e o mundo.
tenho ficado quieta demais e inexacta demais para me aproximar deste mundo que avisto.
estado de ícaro.

lua plus bonnie prince billy

a lua , esta noite, está impossivelmente bela.
lúbrica,operática, cheia de espanto ...
e na minha noite ,prince canta-me this is how i start another day in my kingdom,enquanto eu vou tragando o meu chá de cidreira e acredito que estamos no outono.

onsdag, august 4

o blogger é uma pulga daninha

nos últimos dias tinha-me vindo a queixar da mui pouco lisonjeira publicidade, no tecto da minha humílissima casa.
hoje, instâncias superiores alertam-me: finalmente acabou a angústia com o tira-celulite.
vou verificar,alegre e esfusiantemente.
pois é,agora tenho um tira verrugas...

les orkutiennes obscures mémoires

par madame Folipô


periplando o meu ócio pelas comunidades orkutianas,decido inscrever-me bocejantemente numa auto-intitulada espancadores de teclado.
a ideia agrada-me e meu encanto redobra ao deparar com um fórum que perguntava: que escritor matariam por prazer?

não resisto e leio de fio a pavio os literatos obituários homicidas. devo dizer que o campeão da mortandade foi o sempre citado paulo coelho , seguido pelo nacional-ibérico saramago ( motivo de elevada compaixão, por parte de orkutianos mais sentimentais) e referências várias do mundo do entretenimento literário.
rejubilante fiquei eu , ao ver que alguém havia incluído o nome do fukuyama.




p.s :notícia de última hora_ao que consta a paredes meias,os responsáveis do orkut planeiam tatauar compulsivamente todos os integrantes da dita comunidade...estão apenas a ponderar o ícone a ser utilizado...

un jour on va à la plage

gosto quando a luz do poente entra na casa, coça os meus cabelos, e faz muito barulho , sem ter pedido licença para entrar.
quando eu era mais pequena andava pela casa a calcar as manchas ilumidas do sol e, quando vinha a noite , achava que era eu quem o tinha vencido.
agora fico muito quieta , a posar de amante desta luz do poente.

desoladamente

d.d.d à nébia

há vários conceitos que não voam,como o conceito chaminé , apesar de moderamente etéreo.
mas ave, esse sim, é um conceito voador,muito embora nem a galinha ,nem a aveztruz levantem voo.

hoje de manhã , olhava eu o mar e o céu ,e o céu e o mar e não me podia decidir quem roubou o azul a quem.
mas o que me afilige agora é ?e o céu é um conceito que voa?

tirsdag, august 3

carlos drummond de andrade

gosto muito de leituras ritmadas pela chuva , assim tão verlainiana como a de hoje.resolvi fazer o meu menu hodierno com acompanhamento drummond.



CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!




neste site, do Estado de S.Paulo, e fazendo parte das comemorações do centenário drummondiano, pode ouvir-se o próprio lendo os seus poemas.
tremi ouvindo ... e há também uns excertos de documentários sobre drummond , realizados por fernando sabino .recomendo vivamente.
e não há pedras no meio do caminho.ou talvez sim...

AS SEM-RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça

E com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.

eu prometo nunca mais fazer uma coisa destas

(chove no chão e o chão fica cheio de chuva,é um chão chovido. esta chuva é uma chuva precipitada.chuva cheia de pressa ,de pressura, fazendo fissura neste verão molhado . )

mandag, august 2

cibernética

lembrando Norman Wiener : the quality of man-machine communication influences man's inner well-being..
é sempre bom ter isto em mente , quando o meu lindo e adorável pc insiste em napoleónicos bloqueios continentais...

s.paulo



exposição de julio plaza no museu de arte contemporânea de s.paulo, no campus da universidade, aliás,que campus bonito e impressionatemente grande.que saudades de quando por lá andei em abril...gostaria muito de ver estes poemobiles de julio plaza e augusto de campos.
e de mão dada contigo ...

contratempos hodiernos

não dá ...
o blogger é uma entidade cujo único propósito é atrapalhar-me a vida terrena.então não é que insistem há dias em manter uma publicidade anti-celulite no topo do meu blogue?
há serenidade feminina que suporte tal humilhação????

original soundtrack

Place to be

Nick Drake


( porque agora moro aqui e é o meu lugar )

When I was younger, younger than before
I never saw the truth hanging from the door
And now I'm older see it face to face
And now I'm older gotta get up clean the place.

And I was green, greener than the hill
Where the flowers grew and the sun shone still
Now I'm darker than the deepest sea
Just hand me down, give me a place to be.

And I was strong, strong in the sun
I thought I'd see when day is done
Now I'm weaker than the palest blue
Oh, so weak in this need for you.

esta noite

aquietava-me na casa,olhando as velas que gosto de ter acesas.
leio alto,para mim e para o meu silêncio.tenho sophia,comigo.livro sexto.o primeiro poema que leio alto é «musa».
enquanto fecho ocasionalmente os olhos para prolongar o que leio e escuto, a imagem de sophia ocorre-me.nunca me tinha acontecido isto.foi sublime.é a primeira poesia que me acontece com o seu rosto.
nunca, como hoje, acreditei tão de perto em anjos.

søndag, august 1

tecto

exponho-me porque sou carne viva e estou muito inteira comigo.
tenho mais silêncio que ouvidos, mais coração que sentido e nos meus olhos não cabe tanta paisagem.as sombras cobrem-me o corpo onde a pele já se gastou e dançam nos meus ossos confusos.
já quis barcos dos meus ossos, mas eu era árvore e o pão que me saciava a fome.

de repente emagreci e vi, mais tarde, que eras tu quem assim me desenhava, em linha, atando o coração.
e foi assim magra , assim despojada de todos os incêndios e pertenças , assim sem cheiro ou animal,quase sem pulso e sem cacto , que fiquei maior.
fiquei apenas maior que eu,carne viva onde me submerso, onde fujo .

o que eu aqui conto

é o dia que hoje vivo.
de como vivo ainda este dia que logo se suspende.
há dias assim,fazem a vida ficar autotélica.
preciso muito mais deste percurso do que o que imagino e quando consigo ficar quieta no meu silêncio, estremeço em mim, como um peixe embatendo nas paredes do seu imaginado aquário.

e não quero sequer buscar imagens,comparações,inevitáveis metáforas.
era bom ficar tão despida na linguagem como no útero que foi meu...

continuo a ler a clarice , um sopro de vida .mas há instantes que não posso prosseguir.
acho que a clarice sabia desse efeito mortal dos seus livros.
o hérberto diz que escrever mata e também a clarice assim me diz.


estou inquieta , desacordada e em desacordo.esta confusão do que em mim é recôndito e não tem nome é que me traz esta paz paradoxal.
é nela que caio sem caminho e fico feliz de tamanha humanidade.
resta-me a longa estrada do estranhamento e amar-te onde não há silêncio , nem medo e a festa começa, inteira, imorredoura , porque te vi e sei o teu nome.

egon shiele

Freundschaft




No Celeiro

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