lørdag, juli 30

dívidas por pagar

a história da literatura às crises conjugais.

fredag, juli 29

belas expressões de misantropia global



greta garbo

william faulkner

by google



para quem me achava extravagante ao dizer que felina minha se chamaria clarice.

electra

em criança, tinha o mau hábito de roer as unhas. fizeram-na acreditar que havia nisso uma maldição. deixou então o objecto, mas não o acto: passou a roer-se de inveja.

bola de cristal

pode viver-se atormentado com determinada varanda de um texto do faulkner?

lufa-lufa

saio de casa. volto a casa. saio de novo. regresso de vez. entre a (des)ordem do costume, óculos de sol em cima da última magazine littéraire, écharpe ton sur ton no quadrante oeste. um éluard por perto e também a máquina fotográfica.
hoje posso fazer de conta que estou algures numa ficção négligé .

babelismos

se a minha língua materna fosse o inglês, de certeza que o meu vocabulário incorreria, muito mais frequentemente, em impropérios.
parecem-me sempre muito bem os impropérios em inglês, além de me furtarem à auto-censura tão rapidamente como um gato sobe uma árvore.

passepartout

m. era uma dessas pessoas que atravessa uma semana inteira e pode conversar apenas com o dono da frutaria ou com o carteiro, isto se viveno rés-do-chão, onde pode chegar à fala perguntando por carta extraviada, encomenda demorada e outras vigências postais.
sem senhoras vizinhas com quem se abotoasse por ocasiões, nem sobrinhos sócio- gerentes , ou filhos quasequase doutores, que não os tivera porque também não casara, isto eram outros tempos, um pai severo por perto, brandos costumes à força de tanto servir e ficara assim, só.

a única vez ao ano que abalava da pequena casa trajada de sardinheiras por todos os lados era no natal. ela dizia ao homem da frutaria: não me guarde kiwis esta semana que vou à terra. à rosa amélia, sabe? sim, a rosa amélia, vou passar o natal à terra com a rosa amélia, sabe?ele sabia. era uma prima distante, quase tão no fim da linha que quase não era prima.

mas coubera-lhes um destino mais ou menos parecido, ou pelo menos assim pensava m., pelo que se juntavam em solidão partilhada, uma vez ao ano. se rosa amélia tina casado, não lhe valera de muito, estava viúva. tinha tido filhos , mas com todos tinha entrado em desavença. irmãos eram uns só de pai, outros só de mãe, e detestavam-se todos os cinco entre si com tal minúcia que morava cada um em seu continente.

invariavelmente, todos os anos, m. trazia consigo um belo porta-retratos que lhe oferecia rosa amélia. eram todos muito graves, retorcidos, saídos de prestimosas ourivesarias minhotas.
m. sorria, mais resignada que agradecida, e voltava de autocarro a cismar invariavelmente naquilo.
não imaginava que fosse maldade. vivia tão só que as questões morais se tinham diluído tanto que quase não existiam. a convivência, como a educação, diria kant, confere ao homem mais humanidade do que natureza.

um porta retratos triunfal, de prata, pesado, altivo. e quem poria lá dentro?quem?no primeiro ano resolveu a questão com a mãe. no segundo, por medo, com o pai . no terceiro, por falta de opções com rosa amélia. ao quarto estacou sem saber mais o que fazer.

desse ano em diante, passou a amontoar os porta-retratos num móvel, vazios e destituídos. agora tinha mais um entre mãos para acrescentar a essa legião de porta- retratos, passepartout, como dizia rosa amélia que tinha tido uma preceptora e frisava os cabelos quando ainda era uma mocinha casadoira.

um dia, passou por uma loja de decoração. havia legiões de molduras, pequenas, a tender para o faraónico, algumas discretas, outras de materiais muito futuristas, outras ainda com um ar a imitar o solene daquelas que rosa amélia lhe oferecia.

m. deliciou-se com aquilo: em cada moldura um retrato belo. mulheres louras, altivas,noutras senhoras com ar muito distinto, apalaçado. havia também crianças coradas, com ar estudadamente sereno. homens eram menos, mas que bem os que ali estavam, todos muito respeitáveis, domesticados.
reconheceu alguns dos rostos de revistas que via quando passava pelo cabeleireiro.

nesse mesmo dia,antes de ir para casa, passou pelo quiosque.
passou a noite a recortar rostos que viravam irmãs, filhas, tias e até primas que viviam longe. recortou também um marido bem apessoado e um pai de ar benévolo. compôs uma famíla em molduras como quem faz um presépio.
desde esse dia, se por acaso se sentia mais só, saía e comprava mais uma moldura, já não podia esperar até ao natal.

rua 26

- é mesmo verdade que vais mudar de casa?
- as pessoas costumam referir-se assim, mas o que eu vou fazer é mudar a paisagem das janelas. sobretudo isso.
- mas a tua vista é tão bonita.
- eu sei , mar com cicatriz por perto.
-sim, a linha de comboio.
- é. mas esta casa precisa de outra pessoa.
- a casa precisa de outra pessoa?
- sim, eu causo problemas alergénicos a esta casa. nos últimos meses, a situação tem vindo a agravar-se. não há janelas abertas que resultem.
- e a outra casa?
- algum reumático, mas nenhum problema alergénico, nem do foro psíquico.

the end

acho que sonhaste com o final desse conto. adormeceste com o livro no colo e sonhaste, só pode ser. os contos do faulkner nunca acabam assim. desde que te meteste com gajos do sul ficaste cheia de tiques novos. mas esse final, não, isso é impossível.

paul morreu de tiro - não de culpa- e eddie nunca mais se sentou naquela varanda. assim é que foi, deixa-te lá de mariquices. o pudor era só uma maneira simpática de nos dizer que as virtudes são narrativas muito breves.
sonhaste, foi isso. não deixo que andes por aí a fazer do faulkner um mimoso. isso é que não.

torsdag, juli 28

changing rooms



óbvias razões da recente conversão ao bricolage

deus queira

portugal é isto. um deus queira aberto 24 horas por dia.

a banhos

para ele



andré kertész, underwater swimmer

para ela



edward weston, nude floating

manca da cabeça

sei que ontem vinha para casa e pensava nas árvores. estou tão devagar. arruinei todas as horas. cansei-me de pensar, de dormir, de amanhecer. frase a frase estou mais velha. não queria dizer nada disto, nem sequer outra coisa nenhuma.queria apenas gritar sem que me acudissem, me dissessem que passa, que é a vida. um comprimido e sê feliz, passa bem . até logo.
antes um soco. nunca levei um soco e deve ser esse o mal. uma dor nada metafísica e arrumava logo as prateleiras todas da sentimentalidade.
mas as árvores são grandes demais para me caberem no pensar. no pensamento incluo alfinetes, porta-chaves, sapatos e réguas. coisas pequenas e portáteis. sim, o pensamento devia conter apenas coisas portáteis. abdico de abstracções, terminologias e árvores. quero sonhar como sonha o meu cão. ter um mundo pequeno e ser maior que ele porque lhe mijo em cima das árvores.
na casa as luzes estão acesas dia e noite, nunca as apago, e como não as apago , também não as acendo. é inútil, o que conta é fechar os olhos, ou abri-los. isso é que faz noite ou dia, cansaço ou alegria. não devia haver ruas se ninguém passa nelas. e nem corações aos pedacinhos onde não se apanha o lixo. em cada dedo tenho uma forca, mas não sei o que lá ponha.
fiquei manca da cabeça.
padeço de alguma coisa bem ridícula que me faz parar no meio da rua, como se outro caminho houvesse, como se tudo que soubesse fazer fosse andar por aí, aos encontrões, esperando não cair estatelada.
sei que vinha para casa e pensava nas árvores, mas elas são grandes demais, não me cabem no pensar.

onsdag, juli 27

duração

«Un Livre doit être un danger

frase sublinhada de cioran, Ébauches de Vertige,Gallimard que podia levar a herberto, mas que levou a clarice. um sopro de vida, rocco. preciso colocar este livro de volta na estante, mas ele resiste.aliás esse é o problema genérico dos meus livros. preferem alongar-se pela casa,em jeito de felinos, do que permanecerem nas estantes, como um exército em suas fileiras.

« Tenho medo de escrever. Escrever é tão perigoso».

que nos leva a marguerite duras , Écrire:

« Écrire quand même malgré le desespoir. Non:avec le désespoir.Quel désespoir, je ne sais pas le nom de celui-lá».

moro aqui ?

a caminho







A partir de L'éclipse, l'espace quelconque n'est plus seulement déconnecté mais vidé, déserté. C'est que, de conséquence en conséquence, les personnages se sont objectivement vidés : ils souffrent moins de l'absence d'un autre que d'une absence à eux-même

Gilles Deleuze : L'image-temps (Chapitre 8 : Cinéma, corps et cerveau, pensée, puis, Chapitre 1 : Au delà de l'image-mouvement). 1985







tirsdag, juli 26

entre outros trapezismos mentais

ela lê o prontuário ortográfico no autocarro. jurado testemunhalmente por mim.

a conta que deus fez?

um grupo são três pessoas.
na minha misantropia aritmética, quatro já pertence à categoria de perigosa multidão.
astigmatismo existencial: desvio psico-comportamentel pelo qual o sujeito acredita ver claramente o mundo sob determinada filosofia, postura moral ou religiosa, quando na verdade todos os seus enunciados intelectivos não passam de truísmos oblíquos ;
tal revela-se responsável pela indefinição dos contornos intelectivos e do envelhecimento precoce das capacidades asseverativas dos sujeitos portadores do sintoma;
os pacientes costumam indicar cansaço intelectual como o sintoma mais comum;
meyer desenvolveu estudos que procuravam demonstrar a incidência deste desvio em indíviduos sujeitos à exposição prolongada a livros logo na primeira infância; os seus estudos revelaram-se inconclusivos;

simpósio

hipersemiose: sintoma pela qual o indivíduo manifesta clara preferência pela atribuição de sentidos teleológicos a manifestações arbitrárias; não confundir com astigmatismo existencial;

mandag, juli 25

tawny rose

parece-me título de romance sulista, saído da pena dum escritor novecentista, lá das bandas do mississipi.
mas não, é o nome do meu cromado para queratina, vulgo verniz das unhas.

há toda uma hermenêutica dos nominativos cromáticos que importaria classificar.

curso de defesa pessoal





søndag, juli 24

e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar stá tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está tanto nos teus olhos e o teu olhar está


ruy belo, aquele grande rio eufrates

the end of the affair

depois soube por que não te encontrei:havia mapas a mais para a tua cidade, perdi-me. parece que a alegria é mesmo obra do acaso.

depois de duas horas e vinte e sete minutos

- sabes, é que...bom, na verdade eu não gosto da paula rego.
- ah...então adeus.
- adeus.

nos últimos 365 dias

( o telefone toca. amiga exultante do outro lado. )

- olá, tenho uma novidade para te contar, nem imaginas.
- parabéns, estás grávida.
- como adivinhaste?


à décima sexta de seguida começa a ficar demasiado previsível.

all about eve



"Bill's thirty-two. He looks thirty-two. He looked it five years ago. He'll look it twenty years from now. I hate men." -Margo Channing.
parecem-me sempre mais velhas que eu as coisas, por isso me cansam. os candeeiros. os porta-chaves coloridos. os blocos de notas. coisas feitas que ocupam a memória, repetidas, insistentes. pratos, garfos, agrafadores. coisas acabadas para ficar no lugar das mãos.

lørdag, juli 23

trends

não percebo por que razão estão a cara barbada e o nefelibata cachimbo em desuso. veja-se que bem passeava faulkner por paris em 1925.

torsdag, juli 21

pensavam que já me tinha passado?

( para l. and l. )

"Em toda a grande obra se mistura a vulgaridade, a decepção, a hesitação, a culpa. ( ... )Mas não importa. A arte é o mais alto testemunho dum erro; ela só se desenvolve, como certas flores extremamente difíceis e que mal sobrevivem, numa atmosfera densa de toda a má consciência duma sociedade."

Agustina Bessa Luís,Os Quatro Rios, p. 163, ( edição herdada das estantes avoengas, indicando 35 escudos como preço do livro )

não pensavam, pois não?

"No fim de contas, embirrava com todas elas- com as ricas, pelas suas momices e abusos de capricho; com as pobres, pela sua intençao cega de explorar oportunidades; com as belas, porque se prostituíam; com as feias porque possuíam virtude mentirosa; com as honestas porque os homens as tomavam a sério, com as frívolas porque não levavam a sério os homens. A todas achava metediças e vulgares, velhacas e sem moral. Gostaria de ter filhos para os subtrair à educação das mães, porque, dizia, cheio de cólera e de tédio: « Reparem que teremos em breve uma geração de varões para quem tudo é importante, até fazer versos. »"

( p. 89 )

onsdag, juli 20

uvb

alguma coisa deve entre mim e a minha sombra ter mudado
que não me importa saber esta manhã
alguma coisa errada de que não sei sequer o nome
mas despenteia o coração
alguma coisa
que me sento entre a pausa de coisa nenhuma e sei
ninguém partiu mas tenho saudades

o sol sobe pelas pernas instala-se
vejo o mar o vento o verão
e fico a saborear o ódio de estar muito ao longe
onde nem tu nem eu estamos certos
para acertar é preciso ser criança
ter os ouvidos tapados
tantas conchinhas que havia no meu balde
foi assim que acabou a infância
pedaços a mais numa mão muito estreita.

o verão pela manhã acima
endireita-nos a vaidade, sobe o vestido, pede o decote
sinto que podia ser indecente mas sobrou-me a timidez
podia esperar por ti numa esplanada vazia
traçar a perna( devagar) enquanto te olhava atravessando-te aos poucos
depois vinha embora e ria-me
tu até podias não ser tu
um gajo qualquer de boa figura bastava
queria lá saber se ele gostava
das novas tendências da arte ocidental.

esta manhã é insuficiente quando pousa no papel
eu nunca soube medir muito bem
a vida é grande (mas o meu desacerto maior) e tamanho não é qualidade
imposto lava imposto
só não há moeda que me troque
este amor confinado
o corpo a respirar em cima duma mesa vazia

o que não gosto no verão é dos dos dedos
por entre as sandálias
livres respirando alegremente como se neles houvesse
alguma outra coisa que não se resumisse
a um compêndio de anatomia falange falangeta
digo um nome à toa o teu e não recordo. passo a mentir.
não tenho fôlego para tanto. podia cortar os pulsos agorinha mesmo.
melhor mais tarde. agora ponho bronzeador e estico-me toda
na vontade de ser uma boa funcionária do verão balnear
esqueço o jornal a metafísica o meu ódio
pouso a crise o défice
o coração despentado
e vou por esta manhã de sol que não me importa
não sei de nada sei que mudou alguma coisa
que entre mim e a minha sombra
está alguma coisa que insiste em aborrecer-se
e ficar em casa de cotovelos fincados no vazio.

mandag, juli 18

salvar como rascunho

encontrei o vento, esta rua, as casas. estava tudo nítido, mas não havia nada para dizer, só abrir a página vazia e esperar.
se ficarmos aqui a minha solidão fica igual à tua, assim mesmo, como quem conversa só de dar as mãos.
está tanto silêncio que se ouve o começo do mundo.
por causa de noites assim inventaram os homens as primeiras histórias. nós, muitos homens depois disso, podemos começar por esta página vazia. eu digo assim: há muito, muito tempo encontrei-te. e tu continuas.

sim, és mesmo tu

( exceptuando as referências literárias )

søndag, juli 17

adrillismo

« Reparem nas faces daqueles que, em vez de amar, são amados sempre, que nunca sofreram uma rejeiçãozinha amorosa.São todos gordos, rosados, sempre com um sorriso meio apalermado, com uma felicidade abobalhada e abobalhante.Ser amado em demasia é prejudicial à saúde do intelecto e da alma.Um certo tanto de dor é indispensável à educação sentimental.Pobre de quem é amado demais.Nunca compreenderá uma piada de Woody Allen, sempre dormirá nos fimes de Bergman e passará eternos fins de semana jogando frescobol e aplaudindo o pôr do sol.Ser amado demais é coisa de surfista carioca.»


para ler mais é só seguir o link: adrilles jorge

onsdag, juli 13

proust para amadores

folhear de « a » a « z » uma agenda antiga.

rien de rien

andei muitos dias a prometer isto. e agora?
agora já passou:prazer cumprido.

lenitivo, nada mais que lenitivo



( acho que não sabes, mas este é mesmo o melhor álbum dele. sim, eu sei . everything means nothing to you, mas este álbum é o melhor. eu é que sei .)


estas telas do paul klee não são como ficar atenta ao teu sorriso,nem estas músicas do elliott smith são como estar a ouvir-te.o belo, tu à procura.andar descalça e o mar ficar perto, não é como esperar por ti, mesmo que não viesses, houve um tempo em que ainda esperava por ti.this alphabet town. não é parecido ler um poema, aquele poema do cummings, lembras,such a forever is love´s any now, seres tu quem me ouve, e não este nada que completei. esta cidade é pequena, mas não tão pequena como as minhas mãos onde não cabes mais, não tão pequena como este mundo donde não te posso ver. esta noite bebo um chá que não preciso porque a boca está despovoada e onde não estás não tenho sede.
ainda não ouviste esta, pois não? tomorrow, tomorrow...sim, do elliott smith, sim. they took your life apart and called you failures art, they were wrong though they wont know´till tomorrow.

tirsdag, juli 12

shiva

do outro lado da janela passa um filme.
a neblina aproxima-se das luzes e fica laranja, mas segue, segue sempre. e também os carros seguem , sem ritmo, até que contornam a esquina e desaparecem, invariavelmente.

talvez haja até alguém de gabardine nesta noite errada de julho. no café ainda se pode comprar cigarros, mas não vejo ninguém entrar nem sair com a pressa ilícita de quem está prestes a cumprir um prazer.

no entanto, vêem-se alguns rostos pelo vidro do café, uns rostos lentos que o néon mascara lividamente. mas são rostos aparentes, vão todos regressar a casa, cumprir a noite e o sono.

parece que já ninguém desaparece por 20 anos, tendo saído para comprar cigarros. eis o efeito pedagógico das campanhas anti-tabágicas.

aos poucos saem todos, quase que pode sentir-se o hálito das cervejas tragadas entre dois bocejos. uma mulher de bata cansada fica para trás. arruma as mesas, leva a louça que sobra, apaga a televisão. em alguns instantes, também ela sai, fechando o café como um envelope lacrado.

na rua, fica apenas paisagem, neblina e um homem que, ao ver o café fechado,volta para trás.
cigarros?

send your days to me *

basta tão pouco para ser maior.
posso ficar errada o dia todo, mas a noite é minha, inteiramente minha, e só por isso está tudo certo.
às vezes, os olhos abrem-se e ainda estamos vivos.

* will oldham



-bonnie prince billy, o que estás aqui a fazer?
- schhhhh,fala baixo,ale, não quero que ninguém repare em mim.

gonna love you any how

ouve-se em waltz # 2 de elliot smith, em versão live roubada alhures.

p.s não era nada disto que queria dizer.


- o que estás a fazer, bill?
- a colher jacintos, ale.
- jacintos?
-é verdade, sei que gostas.
- sim...mas bill, os meus jacintos são metafóricos, compreendes?
-sim, ale, claro. mas estes que aqui tenho são assim. achas que algum dia te daria um jacinto verdadeiro?
- pois claro, bill.que tonta sou .

coisas

eu, a cidade, as ruas
é tudo verão
mas ninguém te chama
e apenas em algum lugar da casa
um jornal dorme
ainda
sonhando os teus dedos
página a página

cansaço

o que é pensar?
viver onde não somos vistos.

crash

segundo o dn, vai haver uma perigosa colisão entre as expectativas dos empresários e a nova orientação do programa prime.
dada a recém-adquirida condição de empresária, sinto-me deveras angustiada:

« Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, admite que a reorientação do Prime vem de encontro às expectativas dos empresários, mas lamenta que o Governo não tenha aproveitado para estabelecer objectivos em termos de timings no uso das verbas. »

søndag, juli 10

o idiota, dostoiévski

- Mas é...é uma cópia da tela de Holbein- disse o príncipe-, que entretanto examinara bem o quadro-, e, embora eu não seja grande perito parece-me que é uma excelente cópia.Vi este quadro no estrangeiro e não posso esquecer-me dele. Mas ... por que...
Rogójin deixou bruscamente de se interessar pelo quadro e seguiu em frente. A distracção, sem dúvida, e o estranho e irritadiço estado de ânimo que tão inesperadamente se manifestou em Rogójin justificariam estes arrebatamentos; mesmo assim o príncipe estranhou que uma conversa que o próprio Rogójin iniciara fosse assim bruscamente interrompida e que esquecesse, até, de perguntar-lhe.
- Ouve, Lev Nicoláevitch, há muito que te queria perguntar: tens fé em Deus?- retomou Rogójin a conversa, passado pouco tempo .
- Estranha pergunta...e olhas-me com uns olhos...- disse o príncipe, involuntariamente.
- Gosto de olhar para aquele quadro- murmurou Rogójin depois de um curto silêncio, como que esquecido da sua pergunta.
- Para aquele quadro!- exclamou de repente o príncipe, dominado por uma ideia súbita.- Para aquele quadro!Mas, por causa daquele quadro, toda a fé é capaz de desaparecer!
- Desaparece, pois- confirmou inesperadamente Rogójin. Já tinham chegado à porta que dava para as escadas.
- Como ?- estacou o príncipe. - O que dizes?Eu disse-o quase por brincadeira, tu disseste-o a sério!E por que me perguntaste se tenho fé em Deus?
- Por nada.

( ... )







A compaixão é a lei principal, e talvez única, da existência de toda a humanidade. ( ...) Com que soturnidade disse há pouco Rogójin que a «fé lhe desaparece»!Este homem sofre muito. Diz que « gosta de olhar para aquele quadro»;não gosta, mas sente necessidade.Rogójin não é apenas uma alma cheia de paixões, é um lutador: quer devolver a si próprio, à força, a sua fé perdida.

financial times

intimidade para mim é poder dialogar com alguém só de escutá-la.
com direito a vice-versa.

talento

podia ser piano, empadas de carne, canto lírico ou alpinismo. mas não, o meu talento secreto é, realmente, pintar paredes.

moral da história

estavas perto de mais, eu não te via, por isso fui embora. no fundo, sentia-me muito só, estavas tão perto, tão perto que simplesmente não existias.

pois, bill callahan

Lisboa ........... 0

Porto ........... 0

Faro ........... 0

jornal público, às 11: 54 a.m

tirsdag, juli 5

é ou não é verão, bill callahan?

conta-me como fico vestida de personagem, se me pintas as unhas ou deixas tudo ter a cor do céu. não digas se me escreves um beijo ou deixas viúva numa casa do sul. faz-me aparecer devagar na tua mão e olha bem para mim, vê se é mesmo isso. o papel pode enganar e tu estás quieto, basta abrir a mão e eu apareço .
conta-me como fico, vestida de personagem. escreve-me por dentro, tens esta folha branca e o meu pé descalço. abre o capítulo, acorda-me. sabes bem que esta noite um de nós tem de morrer.

mandag, juli 4

quem é mais sentimental que eu ?

confirmação de uma noite de escutas: a música é a única arte com salvo - conduto para o derramamento .

søndag, juli 3

bibliografia

então ela fez um círculo e começou a andar às voltas. daí por muitos anos, estava do outro lado do mundo.
quem disse que andando em círculos não se sai do mesmo lugar?

a mesóclise

ultimamente, tem vindo a ser preterida, injuriada, vilipendiada. é preciso um lato movimento de regeneração da mesóclise. juntar-te-ás?

um rebuçado para quem souber o que é

Formulate infinity
Stored deep inside me

Stored deep inside me
Formulate infinity

Stored deep inside me

Stored deep inside me
Formulate infinity
Stored deep inside me

Formulate infinity
Stored deep inside me

Stored deep inside me
Formulate infinity
~
Formulate infinity
Stored deep inside me

Stored deep inside me
Formulate infinity
Stored deep inside me

Formulate infinity
Stored deep inside me

Formulate infinity
Stored deep inside me

Formulate infinity

Formulate infinity
Stored deep inside me

Stored deep inside me
Formulate infinity
Stored deep inside me

teoria do inconsciente

em vez de um iceberg, não teria sido melhor um vulcão?

dumb,dumb,dumb,dumb,dumb

podes traduzir?

aspirina c

uma das afirmações que mais me entediam é a repetição de « eu também».
vou passar a suster «hoje de manhã, chacinei duzentos inocentes porque estava entediada» e aguardar, pacientemente, um eu também.

self bomb

No Celeiro

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