lørdag, juli 30
fredag, juli 29
william faulkner
para quem me achava extravagante ao dizer que felina minha se chamaria clarice.
electra
lufa-lufa
hoje posso fazer de conta que estou algures numa ficção négligé .
babelismos
parecem-me sempre muito bem os impropérios em inglês, além de me furtarem à auto-censura tão rapidamente como um gato sobe uma árvore.
passepartout
sem senhoras vizinhas com quem se abotoasse por ocasiões, nem sobrinhos sócio- gerentes , ou filhos quasequase doutores, que não os tivera porque também não casara, isto eram outros tempos, um pai severo por perto, brandos costumes à força de tanto servir e ficara assim, só.
a única vez ao ano que abalava da pequena casa trajada de sardinheiras por todos os lados era no natal. ela dizia ao homem da frutaria: não me guarde kiwis esta semana que vou à terra. à rosa amélia, sabe? sim, a rosa amélia, vou passar o natal à terra com a rosa amélia, sabe?ele sabia. era uma prima distante, quase tão no fim da linha que quase não era prima.
mas coubera-lhes um destino mais ou menos parecido, ou pelo menos assim pensava m., pelo que se juntavam em solidão partilhada, uma vez ao ano. se rosa amélia tina casado, não lhe valera de muito, estava viúva. tinha tido filhos , mas com todos tinha entrado em desavença. irmãos eram uns só de pai, outros só de mãe, e detestavam-se todos os cinco entre si com tal minúcia que morava cada um em seu continente.
invariavelmente, todos os anos, m. trazia consigo um belo porta-retratos que lhe oferecia rosa amélia. eram todos muito graves, retorcidos, saídos de prestimosas ourivesarias minhotas.
m. sorria, mais resignada que agradecida, e voltava de autocarro a cismar invariavelmente naquilo.
não imaginava que fosse maldade. vivia tão só que as questões morais se tinham diluído tanto que quase não existiam. a convivência, como a educação, diria kant, confere ao homem mais humanidade do que natureza.
um porta retratos triunfal, de prata, pesado, altivo. e quem poria lá dentro?quem?no primeiro ano resolveu a questão com a mãe. no segundo, por medo, com o pai . no terceiro, por falta de opções com rosa amélia. ao quarto estacou sem saber mais o que fazer.
desse ano em diante, passou a amontoar os porta-retratos num móvel, vazios e destituídos. agora tinha mais um entre mãos para acrescentar a essa legião de porta- retratos, passepartout, como dizia rosa amélia que tinha tido uma preceptora e frisava os cabelos quando ainda era uma mocinha casadoira.
um dia, passou por uma loja de decoração. havia legiões de molduras, pequenas, a tender para o faraónico, algumas discretas, outras de materiais muito futuristas, outras ainda com um ar a imitar o solene daquelas que rosa amélia lhe oferecia.
m. deliciou-se com aquilo: em cada moldura um retrato belo. mulheres louras, altivas,noutras senhoras com ar muito distinto, apalaçado. havia também crianças coradas, com ar estudadamente sereno. homens eram menos, mas que bem os que ali estavam, todos muito respeitáveis, domesticados.
reconheceu alguns dos rostos de revistas que via quando passava pelo cabeleireiro.
nesse mesmo dia,antes de ir para casa, passou pelo quiosque.
passou a noite a recortar rostos que viravam irmãs, filhas, tias e até primas que viviam longe. recortou também um marido bem apessoado e um pai de ar benévolo. compôs uma famíla em molduras como quem faz um presépio.
desde esse dia, se por acaso se sentia mais só, saía e comprava mais uma moldura, já não podia esperar até ao natal.
rua 26
- as pessoas costumam referir-se assim, mas o que eu vou fazer é mudar a paisagem das janelas. sobretudo isso.
- mas a tua vista é tão bonita.
- eu sei , mar com cicatriz por perto.
-sim, a linha de comboio.
- é. mas esta casa precisa de outra pessoa.
- a casa precisa de outra pessoa?
- sim, eu causo problemas alergénicos a esta casa. nos últimos meses, a situação tem vindo a agravar-se. não há janelas abertas que resultem.
- e a outra casa?
- algum reumático, mas nenhum problema alergénico, nem do foro psíquico.
the end
paul morreu de tiro - não de culpa- e eddie nunca mais se sentou naquela varanda. assim é que foi, deixa-te lá de mariquices. o pudor era só uma maneira simpática de nos dizer que as virtudes são narrativas muito breves.
sonhaste, foi isso. não deixo que andes por aí a fazer do faulkner um mimoso. isso é que não.
torsdag, juli 28
manca da cabeça
antes um soco. nunca levei um soco e deve ser esse o mal. uma dor nada metafísica e arrumava logo as prateleiras todas da sentimentalidade.
mas as árvores são grandes demais para me caberem no pensar. no pensamento incluo alfinetes, porta-chaves, sapatos e réguas. coisas pequenas e portáteis. sim, o pensamento devia conter apenas coisas portáteis. abdico de abstracções, terminologias e árvores. quero sonhar como sonha o meu cão. ter um mundo pequeno e ser maior que ele porque lhe mijo em cima das árvores.
na casa as luzes estão acesas dia e noite, nunca as apago, e como não as apago , também não as acendo. é inútil, o que conta é fechar os olhos, ou abri-los. isso é que faz noite ou dia, cansaço ou alegria. não devia haver ruas se ninguém passa nelas. e nem corações aos pedacinhos onde não se apanha o lixo. em cada dedo tenho uma forca, mas não sei o que lá ponha.
fiquei manca da cabeça.
padeço de alguma coisa bem ridícula que me faz parar no meio da rua, como se outro caminho houvesse, como se tudo que soubesse fazer fosse andar por aí, aos encontrões, esperando não cair estatelada.
sei que vinha para casa e pensava nas árvores, mas elas são grandes demais, não me cabem no pensar.
onsdag, juli 27
duração
frase sublinhada de cioran, Ébauches de Vertige,Gallimard que podia levar a herberto, mas que levou a clarice. um sopro de vida, rocco. preciso colocar este livro de volta na estante, mas ele resiste.aliás esse é o problema genérico dos meus livros. preferem alongar-se pela casa,em jeito de felinos, do que permanecerem nas estantes, como um exército em suas fileiras.
« Tenho medo de escrever. Escrever é tão perigoso».
que nos leva a marguerite duras , Écrire:
« Écrire quand même malgré le desespoir. Non:avec le désespoir.Quel désespoir, je ne sais pas le nom de celui-lá».
a caminho
A partir de L'éclipse, l'espace quelconque n'est plus seulement déconnecté mais vidé, déserté. C'est que, de conséquence en conséquence, les personnages se sont objectivement vidés : ils souffrent moins de l'absence d'un autre que d'une absence à eux-même
Gilles Deleuze : L'image-temps (Chapitre 8 : Cinéma, corps et cerveau, pensée, puis, Chapitre 1 : Au delà de l'image-mouvement). 1985
tirsdag, juli 26
entre outros trapezismos mentais
a conta que deus fez?
na minha misantropia aritmética, quatro já pertence à categoria de perigosa multidão.
tal revela-se responsável pela indefinição dos contornos intelectivos e do envelhecimento precoce das capacidades asseverativas dos sujeitos portadores do sintoma;
os pacientes costumam indicar cansaço intelectual como o sintoma mais comum;
meyer desenvolveu estudos que procuravam demonstrar a incidência deste desvio em indíviduos sujeitos à exposição prolongada a livros logo na primeira infância; os seus estudos revelaram-se inconclusivos;
simpósio
mandag, juli 25
tawny rose
mas não, é o nome do meu cromado para queratina, vulgo verniz das unhas.
há toda uma hermenêutica dos nominativos cromáticos que importaria classificar.
søndag, juli 24
the end of the affair
depois de duas horas e vinte e sete minutos
- ah...então adeus.
- adeus.
nos últimos 365 dias
- olá, tenho uma novidade para te contar, nem imaginas.
- parabéns, estás grávida.
- como adivinhaste?
à décima sexta de seguida começa a ficar demasiado previsível.
all about eve
"Bill's thirty-two. He looks thirty-two. He looked it five years ago. He'll look it twenty years from now. I hate men." -Margo Channing.
lørdag, juli 23
trends
torsdag, juli 21
pensavam que já me tinha passado?
"Em toda a grande obra se mistura a vulgaridade, a decepção, a hesitação, a culpa. ( ... )Mas não importa. A arte é o mais alto testemunho dum erro; ela só se desenvolve, como certas flores extremamente difíceis e que mal sobrevivem, numa atmosfera densa de toda a má consciência duma sociedade."
Agustina Bessa Luís,Os Quatro Rios, p. 163, ( edição herdada das estantes avoengas, indicando 35 escudos como preço do livro )
não pensavam, pois não?
( p. 89 )
onsdag, juli 20
uvb
que não me importa saber esta manhã
alguma coisa errada de que não sei sequer o nome
mas despenteia o coração
alguma coisa
que me sento entre a pausa de coisa nenhuma e sei
ninguém partiu mas tenho saudades
o sol sobe pelas pernas instala-se
vejo o mar o vento o verão
e fico a saborear o ódio de estar muito ao longe
onde nem tu nem eu estamos certos
para acertar é preciso ser criança
ter os ouvidos tapados
tantas conchinhas que havia no meu balde
foi assim que acabou a infância
pedaços a mais numa mão muito estreita.
o verão pela manhã acima
endireita-nos a vaidade, sobe o vestido, pede o decote
sinto que podia ser indecente mas sobrou-me a timidez
podia esperar por ti numa esplanada vazia
traçar a perna( devagar) enquanto te olhava atravessando-te aos poucos
depois vinha embora e ria-me
tu até podias não ser tu
um gajo qualquer de boa figura bastava
queria lá saber se ele gostava
das novas tendências da arte ocidental.
esta manhã é insuficiente quando pousa no papel
eu nunca soube medir muito bem
a vida é grande (mas o meu desacerto maior) e tamanho não é qualidade
imposto lava imposto
só não há moeda que me troque
este amor confinado
o corpo a respirar em cima duma mesa vazia
o que não gosto no verão é dos dos dedos
por entre as sandálias
livres respirando alegremente como se neles houvesse
alguma outra coisa que não se resumisse
a um compêndio de anatomia falange falangeta
digo um nome à toa o teu e não recordo. passo a mentir.
não tenho fôlego para tanto. podia cortar os pulsos agorinha mesmo.
melhor mais tarde. agora ponho bronzeador e estico-me toda
na vontade de ser uma boa funcionária do verão balnear
esqueço o jornal a metafísica o meu ódio
pouso a crise o défice
o coração despentado
e vou por esta manhã de sol que não me importa
não sei de nada sei que mudou alguma coisa
que entre mim e a minha sombra
está alguma coisa que insiste em aborrecer-se
e ficar em casa de cotovelos fincados no vazio.
mandag, juli 18
salvar como rascunho
se ficarmos aqui a minha solidão fica igual à tua, assim mesmo, como quem conversa só de dar as mãos.
está tanto silêncio que se ouve o começo do mundo.
por causa de noites assim inventaram os homens as primeiras histórias. nós, muitos homens depois disso, podemos começar por esta página vazia. eu digo assim: há muito, muito tempo encontrei-te. e tu continuas.
søndag, juli 17
adrillismo
para ler mais é só seguir o link: adrilles jorge
onsdag, juli 13
lenitivo, nada mais que lenitivo
( acho que não sabes, mas este é mesmo o melhor álbum dele. sim, eu sei . everything means nothing to you, mas este álbum é o melhor. eu é que sei .)
ainda não ouviste esta, pois não? tomorrow, tomorrow...sim, do elliott smith, sim. they took your life apart and called you failures art, they were wrong though they wont know´till tomorrow.
tirsdag, juli 12
shiva
a neblina aproxima-se das luzes e fica laranja, mas segue, segue sempre. e também os carros seguem , sem ritmo, até que contornam a esquina e desaparecem, invariavelmente.
talvez haja até alguém de gabardine nesta noite errada de julho. no café ainda se pode comprar cigarros, mas não vejo ninguém entrar nem sair com a pressa ilícita de quem está prestes a cumprir um prazer.
no entanto, vêem-se alguns rostos pelo vidro do café, uns rostos lentos que o néon mascara lividamente. mas são rostos aparentes, vão todos regressar a casa, cumprir a noite e o sono.
parece que já ninguém desaparece por 20 anos, tendo saído para comprar cigarros. eis o efeito pedagógico das campanhas anti-tabágicas.
aos poucos saem todos, quase que pode sentir-se o hálito das cervejas tragadas entre dois bocejos. uma mulher de bata cansada fica para trás. arruma as mesas, leva a louça que sobra, apaga a televisão. em alguns instantes, também ela sai, fechando o café como um envelope lacrado.
na rua, fica apenas paisagem, neblina e um homem que, ao ver o café fechado,volta para trás.
cigarros?
send your days to me *
posso ficar errada o dia todo, mas a noite é minha, inteiramente minha, e só por isso está tudo certo.
às vezes, os olhos abrem-se e ainda estamos vivos.
* will oldham
-bonnie prince billy, o que estás aqui a fazer?
- schhhhh,fala baixo,ale, não quero que ninguém repare em mim.
gonna love you any how
p.s não era nada disto que queria dizer.
- o que estás a fazer, bill?
- a colher jacintos, ale.
- jacintos?
-é verdade, sei que gostas.
- sim...mas bill, os meus jacintos são metafóricos, compreendes?
-sim, ale, claro. mas estes que aqui tenho são assim. achas que algum dia te daria um jacinto verdadeiro?
- pois claro, bill.que tonta sou .
coisas
é tudo verão
mas ninguém te chama
e apenas em algum lugar da casa
um jornal dorme
ainda
sonhando os teus dedos
página a página
crash
dada a recém-adquirida condição de empresária, sinto-me deveras angustiada:
« Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, admite que a reorientação do Prime vem de encontro às expectativas dos empresários, mas lamenta que o Governo não tenha aproveitado para estabelecer objectivos em termos de timings no uso das verbas. »
søndag, juli 10
o idiota, dostoiévski
- Ouve, Lev Nicoláevitch, há muito que te queria perguntar: tens fé em Deus?- retomou Rogójin a conversa, passado pouco tempo .
- Estranha pergunta...e olhas-me com uns olhos...- disse o príncipe, involuntariamente.
- Gosto de olhar para aquele quadro- murmurou Rogójin depois de um curto silêncio, como que esquecido da sua pergunta.
- Para aquele quadro!- exclamou de repente o príncipe, dominado por uma ideia súbita.- Para aquele quadro!Mas, por causa daquele quadro, toda a fé é capaz de desaparecer!
- Desaparece, pois- confirmou inesperadamente Rogójin. Já tinham chegado à porta que dava para as escadas.
- Como ?- estacou o príncipe. - O que dizes?Eu disse-o quase por brincadeira, tu disseste-o a sério!E por que me perguntaste se tenho fé em Deus?
- Por nada.
( ... )
financial times
com direito a vice-versa.
talento
moral da história
pois, bill callahan
Porto ........... 0
Faro ........... 0
tirsdag, juli 5
conta-me como fico, vestida de personagem. escreve-me por dentro, tens esta folha branca e o meu pé descalço. abre o capítulo, acorda-me. sabes bem que esta noite um de nós tem de morrer.
mandag, juli 4
quem é mais sentimental que eu ?
søndag, juli 3
bibliografia
quem disse que andando em círculos não se sai do mesmo lugar?
a mesóclise
um rebuçado para quem souber o que é
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