lørdag, mai 7

adaptação em verso

do texto de joão bonifácio sobre matt elliot, suplemento y do jornal público,6 maio 2005

uma caixinha de música
para bailarinas de porcelana quebrada,
um relicário com demónios lá dentro
um bonsai com garras em vez de ramos
uma planta carnívora
cujo maior esplendor é o seu lento definhar.

música de solstícios
de palavras
à procura do poder hipnótico
da crença na oração

música de um tempo ausente
nem anterior , nem posterior
música ao lado do tempo
música que no seu movimento
deixa de si
apenas o que poderia ter sido
(pois nunca chegamos a saber o que é)

música de uma errância cigana
música de quem se ajoelha para rezar
e esquece as palavras
e não há chão
e as mãos unidas não se sabe para quê.

escusado será dizer: música tristíssima.


apetece pegar na mala
deitar fogo à casa
rasgar fotografias
esquecer nome, rosto,mulheres,país
o estado do fígado,
sair, entrar no primeiro comboio
e não voltar nunca.

escusado será dizer : música tristíssima.

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