torsdag, september 2

valise catatónica

não posso levar comigo a paisagem que avisto da janela.mas levo este livro e aquele e aquele e aquele , não melhor não, só estes.
é preciso avisar a luz a água o telefone os amigos. é preciso abandonar a cadeira onde lia o jornal.tantos papéis , recados de treze anos , diário dos catorze,cartões postais dos quinze anos enamorados,promessas quebradas aos dezasseis,bilhetes de concertos aos dezassete,entradas em museus aos dezoito , de repente e a faculdade, e mais as utopias despenteadas, alguns rostos perdidos e tropeçaste na idade adulta.
as fotografias da mãe , todas comigo, todas assim tão poucas.
quanto pesarão na bagagem os postais dos amigos?paris, itália , copenhaga,nova iorque , berlim...rostos que ficam,mãos que aperto ainda,mãos tão longínquas.
a música...este cd vai e mais este não vivo sem este e mais ainda aquele ...olho os filmes que vimos e este que foi tão bom,chovia lá fora e a alegria estava a cantar sublime nos nossos pulsos.
o que vai, o que fica, balanço de imaginários.e mais este colar de missangas e mais este lencinho de quando as mulheres os usavam e mais esta caixa pequenina onde se guardavam comprimidos .
deixo as tintas,os pincéis e vários casacos onde o meu corpo já não cabe.
daqui a nada faz frio.daqui a nada a vida , outra vez , vestida de fantasia e tu impreparada, quase sem máscara, quase.a vida a levar-te , a levar-me.não posso deixar a pequenina caixa de veludo preto onde cabem do mesmo tamanho que o eterno os perfeitos instantes que vivi.
atado está também teu nome,teus olhos,verdes ,assim verdes,verdes de menor melancolia ,verdes e inteiros ,verdes e de mundo , verdes e tão de ti ,caixa-forte,teu cheiro , teu ombro iluminado .
e mais esta folha quebrada,esta manhã esquecida e o caderno preto que esqueceste.

No Celeiro