søndag, september 11

a poética do devaneio

é um título de gaston bachelard que pode ser lido em tradução portuguesa pela martins fontes.
li-o nos últimos dias. um dos postulados basilares do livro afirma que o devaneio se inscreve num universal humano correspondente à « anima».
segundo jung, a essência humana estaria inscrita em dois pólos, um deles animado por um princípio masculino, « animus» e outro por um princípio feminino, a « anima».
segundo bachelard a diferença entre o sonho e o devaneio começaria por ser desta ordem: o devaneio pertence ao mundo da anima e o sonho nocturno do animus.

antes de partir para a análise propriamente dita do devaneio, que o autor correlaciona com o mundo cognoscente da infância, divaga sobre os príncipios femininos e masculinos na linguagem, na senda do que fazem, segundo o autor, todos os « sonhadores de palavras».

é claro que, como não podia deixar de ser, o estado do devaneio vai ser visto com uma presença manifesta no estado poético. mas deixo esse tópico para próximo post. por agora, ficam as impressões/divagações e devaneios sobre o sexo da linguagem.



« Sim, de fato as palavras sonham.
Mas quero dizer apenas uma das vesânias dos meus devaneios de palavras: para cada palavra masculina eu sonho um feminino bem associado.Gosto de sonhar duas vezes as belas palavras da língua francesa.Claro, uma simples desinência gramatical não me basta.Ela levaria a crer que o feminino é um gênero subalterno.Só me dou por satisfeito depois de haver encontrado um feminino na sua raiz, na extrema profundeza do feminino.
O gênero das palavras, que bifurcação!Mas estaremos jamais seguros de fazer a partilha correta?Que experiência ou que luz guiou as primeiras escolhas?O vocabulário, ao que parece, é parcial, privilegia o masculino e com muita frequência trata o feminino como gênero derivado, subalterno.
( ...)
Os rêves ( sonhos ) e as rêveries ( devaneios), os songes ( sonhos) e as songeries ( devaneios), os souvenirs e as souvenances ( lembranças )- indicadores de uma necessidade de colocar no feminino tudo o que há de envolvente e suave para além dos termos simplesmente masculinos que designam estados de ala.
(...)

Todas as palavras( ...) saem a procurar uma o seu companheiro, outro a sua companheira: la glace ( o espelho) e le miroir ( o espelho) la montre ( o relógio ) e le chronomètre ( o cornómetro), la feuille ( a folha) e le feuillet ( a folha) do livro, le bois ( o bosque ) e la fôret ( a floresta) ( ...).»

Gaston Bachelard, A Poética do Devaneio, Martins Fontes, p.43_51

1 Comments:

Anonymous Anonym apalavrou que ...

Já moro aqui também =)

torsdag, september 15, 2005 9:39:00 a.m.  

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