torsdag, mai 19

educação sentimental

não sei quantas mais vezes ficarei neste cais
nesta cidade, nesta hora absurda
a dizer-te um adeus que não vejo.
não sei em quantas palavras nos emaranhamos e confundimos tanto,
perdeu-se o mundo, meu amor,
o mundo.
ainda ontem eras esta praça ao sol
este sopro que vem do mar e nos lábios se deita
a viver e cantar,
ainda ontem eras tu quem prometia dias maiores,
não sei como de repente era tudo tão longe
os meus ombros caindo entre a sombra
os olhos fechados no cansaço de não te verem.
se eu sempre disse que conhecia o caminho
que os passos se encontram durante a viagem e não antes,
como foi que me perdi dentro da tua mão fechada?
se eu disse que tu eras como as paisagens que respiram connosco
ou os barcos que transpiram na pele
porque a pele é um mar onde às vezes outros corpos connosco naufragam
se eu disse o teu nome e nele inventei
a cor, o papel,o risco
porque fomos embora tão sós?
deve haver aqui, entre as algas, um outro corpo,
longínquo corpo a caminhar de noite sobre as águas
como um deus, como tu quase tão perto disto que não te via.
não sei quantas mais vezes te direi adeus
com a mão cansada e o olhar de quem sabe como acabam todas as histórias.
esta noite foi tão grande, aqui couberam tantas estrelas,
mas a alegria é a sua promessa e pouco mais
andamos todos a viver disto, pobres de pedir,
como se as nuvens nos bastassem e o chão fosse provisório.
esta é a tua morada,meu amor, este chão, este mundo,
por aqui segues, cantando entre a chuva miúda
entre a manhã onde já estive e os dias em que não me verás.
amanhã esqueço-te para sempre e mudo de nome.
amanhã acabou este mundo, esta cidade,
esta aritmética errada em que eu e tu não pudemos nunca ser dois.

No Celeiro