tirsdag, juli 12

shiva

do outro lado da janela passa um filme.
a neblina aproxima-se das luzes e fica laranja, mas segue, segue sempre. e também os carros seguem , sem ritmo, até que contornam a esquina e desaparecem, invariavelmente.

talvez haja até alguém de gabardine nesta noite errada de julho. no café ainda se pode comprar cigarros, mas não vejo ninguém entrar nem sair com a pressa ilícita de quem está prestes a cumprir um prazer.

no entanto, vêem-se alguns rostos pelo vidro do café, uns rostos lentos que o néon mascara lividamente. mas são rostos aparentes, vão todos regressar a casa, cumprir a noite e o sono.

parece que já ninguém desaparece por 20 anos, tendo saído para comprar cigarros. eis o efeito pedagógico das campanhas anti-tabágicas.

aos poucos saem todos, quase que pode sentir-se o hálito das cervejas tragadas entre dois bocejos. uma mulher de bata cansada fica para trás. arruma as mesas, leva a louça que sobra, apaga a televisão. em alguns instantes, também ela sai, fechando o café como um envelope lacrado.

na rua, fica apenas paisagem, neblina e um homem que, ao ver o café fechado,volta para trás.
cigarros?

1 Comments:

Blogger Lídia Aparício apalavrou que ...

Gostei muito deste texto fílmico. Posso filmar?

torsdag, juli 14, 2005 12:37:00 a.m.  

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