a tia de todas as tias
observando a genealogia dos condes portucalenses, um nome se demarca: gontinha guterres. proto-tias na formação da nacionalidade.
blogue provinciano de aspirações kierkgaardianas. admitem-se crises de adolescência em analepse e demais contrições. somos pela misantropia,pela aurea mediocritas e patinagem artística. * ruy belo é nosso muso e tarkovsky merece o nosso fervor ortodoxo. perigo:este é um blog em suspensão fenomenológica! somos pelas leis proteccionistas ao ginger ale da schwepps. temos cotação no mercado de valores:consultar o cac 40. é favor não pisar os jacintos.
2 Comments:
inútil paisagem
podia começar o texto dizendo de repente perdi-te,mas era mentira .
não te perdi assim, perco -te aos poucos , em soluços que tropeçam de medo e confusão.
perco-te em cada sorriso que não verei , em cada palavra por escutar,nos dias pequenos que a distância aumenta.
era tão grande a alegria que julguei ter caminhado toda a terra num só abraço, por isso agora sobra-me o deserto de ficar cansada na vida.
a leveza, sim,abandonu-me num repente e de tantas vezes ensaiar despedidas ficaram-me as personagens todas sem boca.
um dia eu retorno , outra paleta,mais palavras.
a alegria não tem hora marcada e eu sou tão cliché como o fim da festa num filme banal .
se um dia te lembrares,esquece.
eu deixo a terra de casaco aberto e quando for outono há-de ser primeiro no meu peito vazio.
A TORRE
Assombro o relógio, persigo as horas, declaro guerra ao tempo
Existo momento, guilhotino a janela, cerro a porta ao instante
Humilho o papel, estendo o lençol, aguardo-me fim fatigado
Esmago o piano, conspurco o livro, lanço-me nu ao rio
Corto a cabeça da boneca, corto o pelo do cão, desassombro-me
Olho nos olhos do ídolo, desmascaro-o, cuspo-lhe na roupa nova
Arranco as asas do anjo, arranco a minha mão desnecessária
Mão de ferro forjada, esguicha o sangue e domino-o à dentada
Dinamito a pérola, emendo a morte cortando os lábios amados
Metralho o Sol, rebento com a Lua, fico só eu e as estrelas
Não me chega o vácuo, tinjo-o pulverizante de matéria negra
Retiro a moldura ao quadro, apago-lhe as flores, apago-o
Assopro na vela e decreto a noite como natureza das almas
Retiro a máscara, sujo-me de verdade, espanco o cachaço dos homens
Faço navegar o barco para fora da garrafa, decreto-me seu capitão
Despeço os carregadores de liteiras, e carrego-as eu às costas
Amanso o mar, afundo a ilha, descoloro as cores tropicais
Lanço-me louco nas profundezas da alma, torno a loucura banal
Mato Deus, ressuscito-o para que perceba quem manda
Entro nos cérebros e apago as histórias, acordando não haverá nada
Desboto os papeis escritos, serão todos escritos em vão
Danço o tango com o poeta, ele fica tonto, eu atiro-o para o chão
Assenhoro-me dos dedos do músico e ensino-o a música da morte
Estorvo a passagem da ambulância convencendo o moribundo da sua sorte
Avanço aos pulos sobre os telhados, escarneço dos superficiais
Rodopio na auréola do anjo, masturbo-me na cauda de Satã
Desfaço o nó da gravata, tiro a camisa, arranco a pele
Ponho a mão no coração e arranco-o também, a seguir a jugular
Faço malabarismos com o fígado, o baço e o pâncreas
Surjo na rua corpo sem órgãos, encontro uma camisa e uma gravata
Como a gravata e vomito, troco os meus órgãos pela camisa
Embrulho o vómito na camisa e caminho sem direcção
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