wireless
o meu teclado não tem fios. do outro lado da janela ( acho que passei metade da vida a olhar por janelas) está um pequeno cão com ar metafísico, sentado na soleira de uma porta. essa porta dá para um cabeleireiro. tony, assim se chama, não o cão, o cabeleireiro. posso ver daqui as cadeiras vazias e as manucures sem pacientes à janela também. elas não me vêem e eu faço de conta que não existo.penso em cigarros, nos cigarros que não fumo. uma muher parou perto do cão.sei que é ela quem sobe ao primeiro andar, olá tony, nuances, sim? e não o cão. ele continua ali, quieto como se não houvesse cidade, horas ou mundo por onde atravessar a sua condição de ser cão a 25 de outubro de dois mil e alguma coisa. daqui não vejo, mas ao fundo da rua, está o mar. aqui é sempre mar no fim de todas as ruas. há quem se sinta desorientado, mas é certo que aqui nunca ninguém se perdeu ou errou o caminho. o cão desce agora a rua, talvez mesmo até ao mar. o meu teclado não tem fios, é por isso que este texto também não.
não. o cão voltou atrás, o texto tem rewind. lá está ele, de novo sentado na soleira da porta.
não. o cão voltou atrás, o texto tem rewind. lá está ele, de novo sentado na soleira da porta.
1 Comments:
curioso. aqui, como aí, também há um cabeleireiro chamado tony... coisas que me deixam a pensar.
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