torsdag, juli 28

manca da cabeça

sei que ontem vinha para casa e pensava nas árvores. estou tão devagar. arruinei todas as horas. cansei-me de pensar, de dormir, de amanhecer. frase a frase estou mais velha. não queria dizer nada disto, nem sequer outra coisa nenhuma.queria apenas gritar sem que me acudissem, me dissessem que passa, que é a vida. um comprimido e sê feliz, passa bem . até logo.
antes um soco. nunca levei um soco e deve ser esse o mal. uma dor nada metafísica e arrumava logo as prateleiras todas da sentimentalidade.
mas as árvores são grandes demais para me caberem no pensar. no pensamento incluo alfinetes, porta-chaves, sapatos e réguas. coisas pequenas e portáteis. sim, o pensamento devia conter apenas coisas portáteis. abdico de abstracções, terminologias e árvores. quero sonhar como sonha o meu cão. ter um mundo pequeno e ser maior que ele porque lhe mijo em cima das árvores.
na casa as luzes estão acesas dia e noite, nunca as apago, e como não as apago , também não as acendo. é inútil, o que conta é fechar os olhos, ou abri-los. isso é que faz noite ou dia, cansaço ou alegria. não devia haver ruas se ninguém passa nelas. e nem corações aos pedacinhos onde não se apanha o lixo. em cada dedo tenho uma forca, mas não sei o que lá ponha.
fiquei manca da cabeça.
padeço de alguma coisa bem ridícula que me faz parar no meio da rua, como se outro caminho houvesse, como se tudo que soubesse fazer fosse andar por aí, aos encontrões, esperando não cair estatelada.
sei que vinha para casa e pensava nas árvores, mas elas são grandes demais, não me cabem no pensar.

2 Comments:

Blogger Luis F. Cristóvão apalavrou que ...

assim vamos,feito parvos...

torsdag, juli 28, 2005 5:54:00 p.m.  
Blogger herbert farias apalavrou que ...

Algo deste post me lembra Clarice Lispector, mas não sei bem o quê. Clarice é grande demais, não me cabe no pensar.

fredag, juli 29, 2005 4:00:00 p.m.  

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