torsdag, juli 29

notre demon

na obra de Clarice , volta-se sempre ao ser do texto , verdadeiramente assumido como tal .estamos perante um ente para o qual se caminha sempre , quer seja no próprio ser que dá à luz a escrita , quer seja a epiderme do mundo na qual se voga erraticamente ,sempre em busca do sulco exacto , da profundidade que permita o encontro com o poço profundo da essência .

nunca está ausente o lado do sacrifício da escrita,mais do que labuta , missão.é através do corpo-sacrifício que o escrevente se resgata , se imola, se busca e a si mesmo faz renascer.então a escrita é criadora e dona da sua criatura.
e se nela há criação , passa-se para a adoração,para a indagação,para a contemplatividade essencial .a escrita torna-se religião de si mesma , votivamente entregue à religação dos seres com a sua unidade procurada.

 

« A inspiração é como um misterioso cheiro de âmbar.Tenho umpedacinho de âmbar comigo.O cheiro me faz ser irmã das santas orgias do Rei Salomão e da Rainha do Sabá.Benditos sejam os teus amores.Será que estou com medo de dar o passo de morrer agora mesmo ?Cuidar para não morrer.No entanto eu já estou no futuro .Esse meu futuro será para vós o passado de um morto .Quando acabardes este livro chorai por mim um aleluia.Quando fechardes as últimas páginas deste malogrado e afoitoe brincalhão livro da vida então esquecei-me.Que Deus vos abençoe e então este livro acaba bem.Para enfim eu ter repouso .Que a paz esteja entre nós , entre vós e mim.
Estou caindo no discurso?que me perdoem os fiéis do templo: eu escrevo e assim me livro de mim e então posso descansar .»
 
 
 
Um sopro de vida , p.21

No Celeiro